A
Sociedade nos Anos 50 – Parte A
1.
Introdução
Os
Anos de 1950 ficaram conhecidos como os “Anos Dourados”. É uma década de
revoluções tecnológicas com evidentes implicações sociais, especialmente quando
consideramos o ponto de vista comunicacional, pois é nesse período que as
propagandas invadem a rádio e a recém-chegada televisão.
The Golden Years
Os
Estados Unidos tornam-se um modelo de prosperidade e confiança, uma vez que
desenvolve níveis de bem-estar social muito elevado graças as melhores
qualidades de habitação e de telecomunicações.
Os
norte-americanos produzem bens pouco duráveis para consumo. Na Europa, o estilo
modernista da Bauhaus apresenta um design voltado à funcionalidade da vida
moderna e tem como objetivo a fabricação de bens duráveis.
2.
Cultura e Sociedade nos Anos 50
No
que respeita ao padrão de beleza, a década de 50 é marcada pelos corpos
esquálidos, diferentemente daquele corpo da década anterior - marcado pelas
curvas de Marilyn Monroe.
Agora,
o padrão de beleza a ser alcançado é o de Brigitte Bardot, até 1957. Note que a
mulher está cada vez mais independente, mas além de bela e bem cuidada, ela
ainda acumula a função de dona-de-casa, esposa e mãe.
Não
obstante, com o fim da escassez do pós-guerra, a beleza pode ser considerada um
tema importante pela indústria. Assim, era tempo de cuidar da aparência de modo
sofisticado. Sem espanto, será durante os anos 50, a alta-costura e a indústria
de cosmética irão se desenvolver sem precedentes. Daí surge a moda colegial,
inspirada no visual sportswear.
Contudo,
o ponto alto dessa década é a popularização da televisão. No Brasil, em
setembro de 1950 é inaugurada a TV Tupi, o primeiro canal de televisão da
América Latina. Já o cinema, seguindo o modelo norte americano, difunde a moda
do garoto rebelde, representada por James Dean; os filmes mais populares são
Cinderela (1950) e Peter Pan (1953).
Ora,
todos os temas da época decorrem da ficção científica e as viagens espaciais.
Até mesmo os carros americanos serão inspirados na tecnologia espacial
(grandes, baixos e compridos, luxuosos e confortáveis), inclusive os diversos
aparelhos eletrodomésticos criados, como a máquina de lavar roupas e o
aspirador de pó.
Quanto
aos avanços científicos, podemos destacar o primeiro transplante de órgão, em
1954; o desenvolvimento da primeira vacina de poliomielite, em 1955.
Em
1957 acontece o lançamento da nave Sputnik I, bem como o primeiro ser vivo em
órbita da Terra (a cadela Laika) a bordo da Sputinik II.
Finalmente,
é nessa década que surge o rock'n'roll nos Estados Unidos. A repercussão
mundial esteve nas vozes de cantores como Elvis Presley, que começa a fazer
sucesso em 1956 e outros, como Chuck Berry, Chubby Cheker e Bill Haley.
3.
Política nos Anos 50
A
política nos anos de 1950 fica marcada pelos conflitos entre os blocos
capitalista e socialista. São exemplos: a Guerra Fria (1947-1991), a Guerra do
Vietnã (1955-1975) e, no final da década, a Revolução Cubana (1959).
A
corrida espacial é um verdadeiro símbolo do cabo de guerra entre os Estados
Unidos e a então União Soviética pela liderança na exploração do espaço.
4.
Economia nos Anos 50
Nos
anos 50, o acontecimento mais importante no plano econômico é a assinatura do
Tratado de Roma em 1957, segundo o qual se estabelecia a Comunidade Econômica
Europeia (CEE), precursora da União Europeia.
5.
O Estilo de vida americano em imagens raras dos anos 50
A
década de 1950 foi marcada por vários episódios relevantes: do crescimento das
tensões diplomáticas entre as duas maiores potências econômicas da época — os
Estados Unidos e a União Soviética — aos novos hábitos de uma sociedade que
contava com uma série de novos bens de consumo a seu dispor, tudo contribuiu
para que aqueles anos entrassem para a História e conquistassem uma legião de
admiradores até os dias de hoje.
Um
desses fãs nostálgicos, chamado Denis Fraevich, reuniu os registros
fotográficos vibrantes dessa fase de ouro para mostrar como era o estilo de
vida na Terra do Tio Sam. Através deles, vemos uma geração disposta a se
desvencilhar dos grilhões que a mantinham presa ao passado, mas que continuava
precisando lidar com questões delicadas, como a segregação racial. A seguir,
você viaja no tempo através dessa série fotográfica incrível:
a)
Entrada exclusiva para negros, no Alabama, em 1956
c)
O ator James Dean enquanto abastecia o seu Porsche
d)
Daytona Beach, na Flórida, em 1957
e)
Avó e neta diante da vitrine de uma loja de roupas, em 1956
f)
Crianças negras do lado de fora de um parquinho, no Alabama, em 1956
h)
Rua de São Francisco, na Califórnia, em 1957
i)
Assento para crianças típico da década de 1950
k)
Marilyn Monroe vestida com um saco de batatas
l)
Ceia de Natal com direito a vinho e música no toca-discos
o)
Sala de embarque do aeroporto de Atlanta, na Geórgia, em 1956
p)
Pombinhos saindo para dançar em Nova York, em 1957
q)
A colisão entre um automóvel e um bonde elétrico, em 1955
r)
Mãe e os seus filhos, em registro de 1956
6.
A Juventude dos Anos Dourados – Débora AR Trindade
Historicamente,
os anos 50 ficaram marcados como os anos do “pós-guerra”, o que significou o
fim da escassez de bens de consumo em geral. A seguinte análise tem como
objetivo mostrar o panorama da sociedade nos anos 50 e a relação da juventude
com essa sociedade valorizadora de seu passado. A partir daí, iniciaremos nossa
análise mostrando a tradição em construção.
Adiantamos
que é uma juventude que inicia seus movimentos de contestação direta, através
de um comportamento, e que essa mesma juventude está em formação, que se dará
completa em maio de 68. Nós optamos por analisar o comportamento, desde suas
vestimentas até a mudança do imaginário que estes jovens possuíam.
Chama-se
de “Anos dourados” o período que focaliza essa análise. Seu início se dá no fim
da 2ª Guerra Mundial e perpassa boa parte do período da Guerra Fria.
Conceitualmente, é caracterizada por representar uma vitrine da boa vida diante
do mundo atrasado e vermelho da União Soviética. É um retorno a um período de
estabilidade, onde a tradição volta a ser aplicada. Focalizando nosso estudo no
espaço estadunidense, percebemos a (re) construção do “American Dream”.
Reconstrução porque o que se dá na sociedade estadunidense, neste período, é um
retorno às formas tradicionais de vida, abaladas pela Grande Guerra.
O
antigo sonho americano passa a ser apresentado ao mundo como o “American way of
life”, dessa vez aparado pelos avanços tecnológicos, sobretudo de
eletrodomésticos, automóveis e cosméticos, que o capitalismo podia oferecer.
Tratava-se do triunfo da modernidade aliado aos valores morais burgueses
tradicionais. Um exemplo claro dessa afirmação se encontra na vida feminina
deste período. Se num primeiro momento, o da Grande Guerra, essas mulheres
apoiavam os seus esposos participando ativamente da defesa de seus países,
durante os anos dourados, haverá o retrocesso ao comportamento feminino. A
mulher deveria ser bela e bem cuidada, casar-se cedo, possuir filhos, ser uma
boa mãe, saber cuidar de seu lar, enfim, percebe-se um retorno ao que antes era
concebido como papel fundamental da mulher. É claro que isso não surge como uma
medida imposta.
O
que se vivia era o conforto do fim da Guerra. O período de opressão e tensão
que o ambiente em guerra trazia havia se desmanchado diante da sociedade
estadunidense. Não há mais a ameaça direta da invasão nazista, ou o temor do
eixo do mal. Vive-se um novo período. Talvez pior, por conta de essa tensão não
conseguir se expressar explicitamente. Daí denominarmos esse instante como “Guerra
Fria”. A guerra estava em mostrar ao mundo qual o melhor estilo de vida: o
capitalista ou o socialista. Nesse aspecto, o ideal de conforto que o
capitalismo e a sociedade de consumo esbanjavam era potencializado ao máximo.
Surgem para essas mulheres o aspirador de pó, a máquina de lavar, tudo para
facilitar a vida dessas novas mulheres, e a sua aparente felicidade. E para
sustentar e gerar o consumismo dessa sociedade.
A
própria vestimenta é influenciada por esse novo ideário de vida. Com o fim dos
anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50, no início da
década se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo
"New Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram
gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A
cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e
outros acessórios luxuosos, como peles e jóias. Essa silhueta extremamente
feminina e jovial atravessou toda a década de 50 e se manteve como base para a
maioria das criações desse período.
Apesar
de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade,
acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi
tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look" Dior, o que
indica que a mulher do início da década ansiava pela volta da feminilidade, do
luxo e da sofisticação estimulada pela televisão que vendia a idéia do glamour
pelo consumo. E foi mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957,
a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
Com
o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de
grande importância. O clima de sofisticação gerou uma necessidade de cuidar da
aparência (alguma semelhança com a atualidade?). A maquiagem estava na moda e
valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos
para os olhos. Grandes empresas, como a Revlon, Helena Rubinstein, Elizabeth
Arden e Estée Lauder, gastavam muito em publicidade, era a explosão dos
cosméticos. Na Europa, surgiram a Biotherm, em 1952 e a Clarins, em 1954,
lançando produtos feitos a base de plantas, que se tornaria uma tendência a
partir daí.
Era
também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de
dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções alisadoras e
fixadoras. Os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo, como os de
Brigitte Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas
caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina. Enfim, essa sociedade do
pós-guerra ansiava justamente pelo conforto que a guerra, de fato, havia
tirado. Porém, esse relativo conforto teria em paralelo a construção das
contestações da juventude. Nesse ponto reside a rebeldia dessa juventude:
quando ela contesta valores tidos como absolutos, mesmo que participe do
ambiente de construção deles.
Moda:
o contraponto do visual rebelde com o glamour da alta costura
Como
já vimos brevemente, a construção do ideário de vida perfeita estadunidense foi
feita principalmente no mundo da moda. Inicialmente, a alta costura ganha
força, quando se busca viver a bonança de um novo período. O mundo econômico
permitia essa construção. Afinal, desde o final da guerra, os Estados Unidos já
se lançavam como potência hegemônica na sociedade capitalista ocidental, sendo
o único representante e defensor da aparente liberdade que esse regime
apresenta (novamente, alguma relação com a sociedade de hoje?). Essa hegemonia,
inclusive, encontrava-se no mundo militar. Lembremos que as bombas nucleares
foram lançadas pelos estadunidenses e mostravam a força militar desse jovem
país em crescimento. Nesse aspecto, a sociedade poderia utilizar todos os meios
para fazer valer a sua máxima de que se vivia em uma sociedade feliz.
A
História da Moda nos Anos 50
A
juventude estava nessa sociedade também. Ela também, inicialmente, vai propagar
a felicidade pelo consumo. A mudança, pelo menos, no mundo da Moda, pode ser
enxergada quando a massificação imposta pela indústria tenta abarcar essa
aparente feliz sociedade. É necessário entender que a construção do tradicional
se dá em paralelo com os movimentos de inocente rebeldia desses jovens.
Inocente porque, aparentemente, não havia uma utopia a ser seguida. A luta era
pela identidade, pela liberdade de expressão, e sendo os jovens, talvez, a
camada mais sensível da sociedade e mais enérgica, eles vão, ao longo da
década, contestar a própria educação que tinham.
No
ideário de beleza, o cinema teve grande participação. Dois estilos de beleza
feminina marcaram os anos 50: o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly
e Audrey Hepburn, caracterizado pela naturalidade e jovialidade e o estilo
sensual e fatal, do qual as atrizes Rita Hayworth, Ava Gardner e as pin-ups
estadunidenses, loiras e com seios fartos, são ótimos exemplos. Entretanto, os
dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte
Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos - a devastadora combinação de
ingenuidade e sensualidade. Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu
apogeu.
Nomes
importantes da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga -
considerado o grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre
Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior,
transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas. Ao lado do
sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando na
direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria estadunidense desse setor
estava cada vez mais forte, com as técnicas de produção em massa cada vez mais
bem desenvolvidas e especializadas. A juventude rebelde adere ao ready-to-wear
fazendo uma contraposição à alta costura e ao glamour e consequentemente, ao
tradicionalismo.
Essa
nova tendência estender-se-ia à Europa e logo o prêt-à-porter nos ateliês dos
estilistas começaria a se desenvolver em contraponto à haute couture – que por
sua vez não conseguiria manter a mesma abrangência e predominância que obtivera
outrora em face a era industrial de confecção, se restringindo a atender uma
reduzida elite conservadora que podia bancar os altos preços das roupas sob
medida em nome do prestígio e da tradição. Na Inglaterra, por exemplo, empresas
como Jaeger, Susan Small e Dereta produziam roupas prêt-à-porter sofisticadas.
Na Itália, Emilio Pucci produzia peças separadas em cores fortes e estampadas
que faziam sucesso tanto na Europa como nos EUA. Na França, Jacques Fath foi um
dos primeiros a se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, e logo outros
estilistas começaram a acompanhar essa nova tendência, à medida que a
alta-costura começou a perder terreno, já no final dos anos 50. Nessa época,
pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às criações da moda
sintonizada com as tendências do momento. A própria corrida espacial e o termo
“modernidade” passam a ser utilizados no imaginário social e na construção da
moda. A arquitetura também é influenciada por esse novo estilo, assim como o
design de carros. O tradicionalismo, antes instaurado pela antiga sociedade do
pós-guerra, converte-se numa crescente modernidade nesse período.
Dessa
forma, a juventude passa a fazer parte de uma relativa massificação, mas não
sem buscar sua própria identidade. Ora, a indústria do jeans passava a crescer.
Nesse sentido, a juventude se via massificada mesmo, num primeiro momento.
Todos usariam um mesmo estilo de roupa. Porém, é justamente através dessa
massificação que se realizará a principal mudança destes jovens. Assim, é a
partir desse momento de massificação que o ideário rebelde passa a ser
construído. A busca é pela identidade que se pode criar através dessa
massificação. A moda começa a ser construída, nesse ponto, como representação
individual do jovem rebelde.
O
cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme
"Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans.
Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde
Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da
juventude rebelde que na época da alta costura lança um visual mais “largado”
como contestação do que lhes era imposto. Já na Inglaterra, alguns londrinos
voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com
longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado.
Eram os "teddy-boys”.
A
partir desses apontamentos, percebe-se que a rebeldia dessa juventude estava
principalmente na necessidade de se justificar. Na necessidade de encontrar um
caráter em si, de se identificar consigo e não com o que os obrigavam a ser. A
relação no mundo da Moda, entendido aqui como fonte de análise, nos revela uma
realidade bastante peculiar. É no aproveitamento e na rearticulação do
tradicionalismo que se encontra a rebeldia. Afinal, essa rebeldia e seus
símbolos são resultados diretos do mundo capitalista emergindo nessa sociedade.
Essa
nova relação, no espaço do imaginário da moda, cresce e amplia seus, até
atingir, em 1960, a Europa, quando passa a contestar uma série de valores. Tal
contestação generalizada culminou no movimento rebelde estudantil de 1968.
Cinema:
somente no final da década iniciou-se o movimento de revolução e renovação
A
rebeldia que se revela nos anos 50 é uma rebeldia ainda ingênua, que se
revelava no cinema, por exemplo, com o filme “Juventude Transviada”, o qual
conta a história de Jim Starks, um rapaz de 17 anos que se sente incompreendido
pelos pais e segue o caminho da arruaça. Apesar de ter o título inspirado em um
livro de Psicologia (Rebel without a cause: the Hypnoanalysis of a Criminal
Psycopath, de Robert Linder), o filme não ficou famoso pela sua capacidade de
análise antropológica, mas sim pela criação de identidades, mitos e modelos de
uma juventude que começava a sair da esfera de uma moral rígida. O movimento
juvenil de rebeldia que ganha força na segunda metade dos anos 50 se manifesta
no cinema somente no final da década, influenciado pelo início de uma
instabilidade política após mais uma década de estabilidade e crescimento
econômico das principais potências imperialistas mundiais.
O
ano de 1959, quando eclode a Revolução Cubana, é também o ano que marca a
reabertura da crise capitalista. Essa crise se refletiria nos mais diversos
setores da cultura dos principais países do globo. Na França surgia no final da
década de 1950, uma forte reação cultural ao otimismo superficial e a
mentalidade conservadora que dominava a sociedade de então. Movimentos como o
existencialismo de Sartre, na filosofia; o abstracionismo informal, na pintura
e o nouveau roman na literatura, eram manifestações desta crise. No cinema, a
principal expressão francesa desta reação é o movimento heterogêneo conhecido
como nouvelle vague (a nova onda), que agrupou cineastas das mais diversas
tendências, mas que se identificavam com uma idéia em comum: a de que o cinema
tal qual se apresentava em sua época precisava ser radicalmente repensado.
A
linha de frente deste movimento de renovação formava-se pelos críticos de
cinema Bazin, Chabrol, Truffaut, Godard, Demis, Rivette, Rohmer e Resnais.
Filmes como “Os Incompreendidos” de Truffaut e “Acossado” de Godard foram
centrais para esse movimento, que durou de 1959 até pouco antes da Revolução
Estudantil de 1968 – momento diretamente influenciado pela Nouvelle Vague.
Amigos inseparáveis, Godard e Truffaut batalharam intensamente contra a
mediocridade francesa do pós-guerra, seus filmes inauguraram um novo pensar. A
cultura francesa tão rica outrora vinha se desfacelando, e os
críticos/cineastas impuseram através dos seus filmes essa nova abordagem para
capturar o diálogo arte/espectador que parecia ter se perdido durante os anos
trágicos da guerra.
A
década de 50 nos Estados Unidos é marcada pela imagem da mulher dona de casa,
que casa cedo e tem filhos. Boa esposa e mãe, essa mulher tinha como principal
atividade os afazeres da casa e se encantava com a infinidade de novos
eletrodomésticos que vinham surgindo para facilitar o seu trabalho. No entanto,
o movimento rebelde da década de 50 faz ressurgir o feminismo. A principal responsável
por esse novo vigor do movimento feminista foi a intelectual francesa Simone de
Beauvoir (1908-1986) que manteve um relacionamento de 50 anos com Jean-Paul
Sartre e que em 1949 publica o livro “O segundo Sexo”. Quando surgiu, em 1949,
“O Segundo Sexo” causou tanta admiração quanto estranheza. Era uma obra vasta,
dividida em dois volumes, bem documentada e alicerçada na lógica e no
conhecimento muito pouco estudado da mente “feminina”. Tendo como missão pôr a
nu a condição feminina, explorava áreas ligadas à situação da mulher no mundo,
englobando história, filosofia, economia, biologia, etc., bem como alguns “case
studies” e algumas experiências particulares.
Simone
queria demonstrar que a própria noção de feminilidade era uma ficção inventada
pelos homens na qual as mulheres consentiam, fosse por estarem pouco treinadas
nos rigores do pensamento lógico ou porque calculavam ganhar algo com a sua
passividade, perante as fantasias masculinas. No entanto, ao fazê-lo cairiam na
armadilha de se auto limitarem. Os homens chamaram a si os terrores e triunfos
da transcendência, oferecendo às mulheres segurança e tentando-as com as
teorias da aceitação e da dependência, mentindo-lhes ao dizer que tais são
características inatas do seu caráter. Ao fugir a este determinismo, Simone
abriu as portas a todas as mulheres no sentido de formarem o seu próprio ser e
escolherem o seu próprio destino, libertando-se de todas as ideias
pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos que lhe dão pouca ou nenhuma
hipótese de escolha.
Assim,
a mulher, qualquer mulher, deve criar a sua própria vida, mesmo que seja a de
cumprir um papel tradicional, se for esse o escolhido por ela e só por ela. Em
uma sociedade ainda sob o choque das profundas alterações provocadas pela
Guerra, a posição das mulheres tinha-se fortalecido pela ausência dos homens,
mortos, desaparecidos ou ausentes. Mas Simone lançava um alerta dizendo: “… a
Idade de Ouro da mulher não passa de um mito… A sociedade sempre foi masculina
e o poder político sempre esteve nas mãos dos homens.”. “A humanidade é
masculina” observou ela “… e um homem não teria a idéia de escrever um livro
sobre a situação peculiar de ser macho… e nunca se preocupa em afirmar a sua
identidade como um ser de um determinado gênero; o fato de ser um homem é
óbvio” .
É
importante colocar como ponto de partida para o estudo de “O Segundo Sexo” e do
resto da obra de Simone de Beauvoir, o fato que ela, apesar de reconhecer que
os homens oprimem as mulheres, não deixa de lhes apreciar as capacidades. As
idéias da escritora vieram de encontro à imagem de mulher difundida pelo
tradicionalismo do início da década e colaborou para a tomada de consciência de
uma juventude que estava dando os primeiros passos para a revolução sessentista.
Música:
Elvis e o rock and roll
O Rock and Roll surge nos Estados Unidos da
América no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes em sua
maioria em gêneros musicais afro-americanos, e rapidamente se espalha para o
resto do mundo. A juventude dos anos dourados adotou o rock and roll como
estilo musical e elegeu grandes ídolos como, por exemplo, o maior deles, Elvis
Presley. A nova música com um contratempo acentuado e um ritmo dançante
afirmava ainda mais essa rebeldia surgida na década e trazia uma atitude mais
revolucionária. Era uma música rebelde para uma juventude rebelde. Elvis
Presley se tornou um dos maiores ídolos da juventude, sendo mundialmente
denominado como o Rei do Rock.
Em
1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que,
uníssonos, sintetizavam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade
conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos
daqueles idos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura
populares, consideradas, hoje, "cults" e primordiais, mundialmente.
Suas
canções e álbuns transformaram-se em enormes sucessos e alavancaram vendas
recordes em todo o mundo. Elvis tornou-se o primeiro "mega star" da
música popular, inclusive em termos de marketing. Muitos postulam que essa
revolução chamada rock, da qual Elvis foi emblemático, teria sido a última
grande revolução cultural do século XX, já que as bandas, cantores e
compositores que surgiram nas décadas seguintes - e que fizeram muito sucesso -
foram influenciados, direta ou indiretamente por Elvis.
Uma
rápida conclusão desse estudo nos remete ao problema de se identificar uma
rebeldia nesse momento de transição – o do tradicionalismo a uma juventude
rebelde dos anos 60. Tentamos provar nesse texto a existência dessa rebeldia. O
que poderia resumir a rebeldia desses jovens é a busca por identidades. Se, por
um lado, eles sofrem todas as conseqüências do retorno do tradicionalismo, da
Guerra Fria e do ideário dos anos dourados; essa mesma juventude vai
utilizar-se dessas armas para mostrarem ao mundo os seus anseios por
identidade.
Logo,
a construção da rebeldia reside nessa busca por identidade através de meios
altamente tradicionais. O paralelismo entre juventude e tradicionalismo é tão
forte que, num primeiro momento, não enxergamos essas diferenças. Porém, se não
houvesse tamanha busca por identificação, Elvis Presley não seria o rei do
Rock, tampouco James Dean conservar-se-ia em nosso imaginário desde a sua
morte. Como foi já dito, a juventude dessa década não elaborou seus planos
utópicos; todavia, será na década seguinte que ela amadurecerá e encontrará sua
voz política contestadora.
Fonte
A
Juventude dos anos dourados: o tradicionalismo pós-guerra e a ruptura rebelde
como prenúncio de revolução e vontade de liberdade
Débora
Agatha Rebecchi Trindade e Bruno Sobrinho
http://lemad.fflch.usp.br/node/5294
7.
Anos 50 – A Época da Feminilidade – Claudia Garcia
Com
o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50 se
tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo "New
Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram gastos
para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura
era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros
acessórios luxuosos, como peles e jóias.
Essa silhueta extremamente feminina e jovial
atravessou toda a década de 50 e se manteve como base para a maioria das
criações desse período. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da
simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela
guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o
"New Look" Dior, o que indica que a mulher ansiava pela volta da
feminilidade, do luxo e da sofisticação.
E foi o mesmo Christian Dior quem liderou, até
a sua morte em 1957, a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a
cada estação.
8 de novembro de 1956 na "Folha da Manhã"
Com
o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de
grande importância. O clima era de sofisticação e era tempo de cuidar da
aparência. A maquiagem estava na moda e
valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos
para os olhos, um verdadeiro arsenal composto por sombras, rímel, lápis para os
olhos e sobrancelhas, além do indispensável delineador. A maquiagem realçava a
intensidade dos lábios e a palidez da pele, que devia ser perfeita.
Grandes empresas, como a Revlon, Helena
Rubinstein, Elizabeth Arden e Estée Lauder, gastavam muito em publicidade, era
a explosão dos cosméticos. Na Europa, surgiram a Biotherm, em 1952 e a Clarins,
em 1954, lançando produtos feitos a base de plantas, que se tornaria uma
tendência a partir daí.
5 de outubro de 1952, na "Folha da Manhã"
Era
também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de
dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções alisadoras e
fixadoras.
Os penteados podiam ser coques ou
rabos-de-cavalo, como os de Brigitte Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco
mais curtos, com mechas caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina.
Dois
estilos de beleza feminina marcaram os anos 50, o das ingênuas chiques,
encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela
naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, como o das atrizes Rita
Hayworth e Ava Gardner, como também o das pin-ups americanas, loiras e com
seios fartos.
Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza
da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura
dos dois estilos, a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
As
pioneiras das atuais top models surgiram através das lentes dos fotógrafos de
moda, entre eles, Richard Avedon, Irving Penn e Willian Klein, que fotografavam
para as maisons e para as revistas de moda, como a Elle e a Vogue.
Durante
os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de
moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o grande mestre da
alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina
Ricci e o próprio Christian Dior, transformaram essa época na mais glamourosa e
sofisticada de todas.
A
partir de 1950, uma forma de difusão da alta-costura parisiense tornou-se
possível com a criação de um grupo chamado "Costureiros Associados",
do qual faziam parte famosas maisons, como a de Jacques Fath, Jeanne Paquin,
Robert Piguet e Jean Dessès. Esse grupo havia se unido a sete profissionais da
moda de confecção para editar, cada um, sete modelos a cada estação, para que
fossem distribuídos para algumas lojas selecionadas.
Assim,
em 1955, a grife "Jean Dessès-Diffusion" começou a fabricar tecidos
em série para determinadas lojas da França e da África do Norte.
O
grande destaque na criação de sapatos foi o francês Roger Vivier. Ele criou o
salto-agulha, em 1954 e, em 1959 o salto-choque, encurvado para dentro, além do
bico chato e quadrado, entre muitos outros. Vivier trabalhou com Dior e criou
vários modelos para os desfiles dos grandes estilistas da época.
Em
1954, Chanel reabriu sua maison em Paris, que esteve fechada durante a guerra.
Aos 70 anos de idade, ela criou algumas peças que se tornariam inconfundíveis,
como o famoso tailleur com guarnições trançadas, a famosa bolsa a tiracolo em
matelassê e o escarpin bege com ponta escura.
Ao
lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando
na direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria norte-americana desse
setor estava cada vez mais forte, com as técnicas de produção em massa cada vez
mais bem desenvolvidas e especializadas.
Na Inglaterra, empresas como Jaeger, Susan
Small e Dereta produziam roupas prêt-à-porter sofisticadas. Na Itália, Emilio
Pucci produzia peças separadas em cores fortes e estampadas que faziam sucesso
tanto na Europa como nos EUA.
Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a
se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, mas era inevitável que os outros
estilistas começassem a acompanhar essa nova tendência a medida que a
alta-costura começava a perder terreno, já no final dos anos 50.
Nessa época, pela primeira vez, as pessoas
comuns puderam ter acesso às criações da moda sintonizada com as tendências do
momento.
Em 1955, as revistas Elle e Vogue dedicaram
várias páginas de sua publicação às coleções de prêt-à-porter, o que sinalizava
que algo estava se transformando no mundo da moda.
Uma preocupação dos estilistas era a
diversificação dos produtos, através do sistema de licenças, que estava
revolucionando a estratégia econômica das marcas. Assim, alguns itens se
tornaram símbolos do que havia de mais chique, como o lenço de seda Hermès, que
Audrey Hepburn usava, o perfume Chanel Nº 5, preferido de Marilyn Monroe e o
batom Coronation Pink, lançado por Helena Rubinstein para a coroação da rainha
da Inglaterra.
Dentro
do grande número de perfumes lançados nos anos 50, muitos constituem ainda hoje
os principais produtos em que se apóiam algumas maisons, cuja sobrevivência
muitas vezes é assegurada por eles.
A
Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos e a então União Soviética ficou
marcada, durante os anos 50, pelo início da corrida espacial, uma verdadeira
competição entre os dois países pela liderança na exploração do espaço.
A ficção científica e todos os temas espaciais
passaram a ser associados a modernidade e foram muito usados. Até os carros
americanos ganharam um visual inspirado em foguetes. Eles eram grandes, baixos
e compridos, além de luxuosos e confortáveis.
Os Estados Unidos estavam vivendo um momento
de prosperidade e confiança, já que haviam se transformado em fiadores
econômicos e políticos do mundo ocidental após a vitória dos aliados na guerra.
Isso fez surgir, durante esse período, uma juventude abastada e consumista, que
vivia com o conforto que a modernidade lhes oferecia.
Fashion in
the 1950s
Melhores
condições de habitação, desenvolvimento das comunicações, a busca pelo novo,
pelo conforto e consumo são algumas das características dessa época.
A
televisão se popularizou e permitia que as pessoas assistissem aos
acontecimentos que cercavam os ricos e famosos, que viviam de luxo, prazer e
elegância, como o casamento da atriz Grace Kelly com o príncipe Rainier de
Mônaco.
A televisão dos anos 50
A
tradição e os valores conservadores estavam de volta. As pessoas casavam cedo e
tinham filhos. Nesse contexto, a mulher dos anos 50, além de bela e bem
cuidada, devia ser boa dona-de-casa, esposa e mãe. Vários aparelhos
eletrodomésticos foram criados para ajudá-la nessa tarefa difícil, como o
aspirador de pó e a máquina de lavar roupas.
Em
contraposição ao estilo norte-americano de obsolescência planejada, ao criarem
produtos pouco duráveis, na Europa ressurgiu, especialmente na Alemanha, o
estilo modernista da Bauhaus, com o objetivo de fabricar bens duráveis, com um
design voltado a funcionalidade e ao futuro, refletindo a vida moderna. Vários
equipamentos, como rádios, televisores e máquinas, foram criados seguindo a
fórmula de linhas simples, durabilidade e equilíbrio.
Ao
som do rock and roll, a nova música que surgia nos 50, a juventude
norte-americana buscava sua própria moda. Assim, apareceu a moda colegial, que
teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas,
calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans.
O
cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme
"Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans.
Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde
Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da
juventude.
Já
na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um
componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e
vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys".
Juventude
Transviada
Os
últimos momentos de James Dean
Scene from
A Streetcar Named Desire (1951)
Ao
final dos anos 50, a confecção se apresentava como a grande oportunidade de
democratização da moda, que começou a fazer parte da vida cotidiana. Nesse
cenário, começava a ser formar um mercado com um grande potencial, o da moda
jovem, que se tornaria o grande filão dos anos 60.
Fonte
Anos
50 - A Época da Feminilidade
Claudia
Garcia
http://almanaque.folha.uol.com.br/anos50.htm
Sensacional!
ResponderExcluirWaltão obrigado pelo apoio de sempre. O Rock é assim: ora ele sensibiliza a história, ora a história sensibiliza o Rock. Portanto, conhecer o Rock é conhecer a história da humanidade, e vice-e-versa. Um abraço.
ResponderExcluirparabéns
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