domingo, 27 de setembro de 2020

ROCK - Suas Histórias & Suas Magias - Capítulo 9 Parte 4

A História do Rock na Década de 50


12. Surge o Rei

Testemunha da gravação de Rocket 88, considerado o primeiro disco de Rock gravado, o produtor Sam Phillips era um entusiasta da música negra norte-americana desde os tempos em que estudava Direito e atuava como DJ em uma rádio que difundia esses ritmos. Em 1950, ele abriu o Memphis Recording Service, uma Race Record que teve como primeiros artistas o hoje lendário B.B. King, Junior Parker e Howlin’ Wolf, além de Ike Turner, Jackie Brenston & Cia. (que tocaram no disco Rocket 88) através de um selo chamado Sun Records. Sam costumava dizer à sua secretária, Marion Keisker, uma frase que se tornou folclore no Rock and Roll: “No dia em que encontrar um branco que cante como negro eu vou fazer milhões”.

Estúdio da Sun Records em Memphis

Acontece que nos idos de 1953, um rapazinho de costeletas chamado Elvis Aron Presley foi à Sun Records, a fim em gravar um acetato para presentear a mãe. Interessado no custo promocional em gravar o disco por míseros quatro dólares, Elvis adentrou o estúdio de gravação e Marion perguntou-lhe qual o estilo que cantava, no que o rapaz respondeu: “não imito ninguém”. Após gravar My Happiness e That When Your Heartaches Begin, Elvis pagou o acetato e foi embora. Marion, entretanto, impressionada com o rapaz, deixou um recado na mesa de Sam (ele estava fora da cidade), com o seguinte texto: “Elvis Presley, bom cantor de baladas. Guarde isto”.


Elvis Presley - My Happiness (Elvis' first recording)



Elvis Presley - That's When Your Heartaches Begin (private 1953)



Meses depois, Elvis voltou à Sun, sendo atendido pelo próprio Phillips. Gravou mais duas canções. Sam viajou até Nashville, de onde voltou trazendo uma canção para ser interpretada por um cantor negro. Como Phillips não logrou êxito em localizar o tal cantor, lembrou-se do recado de Marion sobre Elvis. O rapaz foi chamado e iniciou-se a sessão de gravação, sem obter muito sucesso. Durante 3 horas, Sam ficou ouvindo Elvis sem chegar num resultado satisfatório. Foi aí que entraram em cena o guitarrista Scotty Moore e o contrabaixista Bill Black. Sam os apresentou a Elvis e assim, os três começaram a gravar algumas coisas, ainda sem o resultado esperado por Sam. No intervalo, Elvis e os dois músicos começaram a brincar com um velho Blues de Arthur Crudup chamado That’s All Right Mama. 

Scotty Moore

Elvis, como que possuído começou a cantar e chacoalhar. Ao ver e ouvir aquilo, Phillips gritou: “- É isso! Vamos gravar! ”. Finalmente, Phillips tinha achado o seu cantor branco com voz negra.

Elvis Presley e Bill Black

Nos meses seguintes, Elvis fez um enorme sucesso, apaixonando as meninas, influenciando os meninos e deixando os pais horrorizados com seu rebolado sexy. Tanto que as TV’s americanas o focalizavam da cintura para cima, o que lhe valeu o apelido Elvis The Pelvis. Surgia, assim, o primeiro e único Rei do Rock.


13. Os pais da criança

Nas primeiras décadas do século XX, surgiram as Race Records, onde cantores de Blues gravaram seus primeiros registros fonográficos, já que as gravadoras ditas brancas jamais lhes dariam qualquer chance. Lá surgiram nomes como WC Handy (autor do primeiro Blues gravado, St. Louis Blues), o lendário Robert Johnson, Ma Rainey, Bessie Smith, Jubilee Singers, entre outros. 


W. C. Handy - St Louis Blues



Ma Rainey - Jealous Hearted Blues 1924



Jubilee Singers - Swing Low Sweet Chariot 1909



Mesmo antes das Race Records, já havia artistas negros em evidência como o compositor Scott Joplin. O compositor branco George Gershwin criou sua obra prima, Rhapsody in Blue influenciado pelo Jazz e pelo Blues. Quanto aos jovens brancos, os Filhos da Guerra, chegou um momento em que muitos deles cansaram da imposição dos pais e então, tiveram acesso às gravações feitas nas Race Records. Mal imaginavam eles que em alguns anos eles criariam sua própria tendência, seu grito de liberdade contra os chamados “quadrados” (squares) da geração anterior.
Em 1951, alguns disc jockeys americanos perceberam o interesse dos jovens Baby Boomers pelo Rhythm & Blues – que era o nome dado ao ritmo até então. Passaram a divulgar esse som para desespero dos pais americanos. Foi aí que, em 1951, o DJ Allan Freed (1921-1965) criou o termo ambíguo Rock and Roll (num sentido literal “Embalar e Rolar”), que já era utilizado na música negra como gíria para o ato sexual (no R&B) ou para evocar o êxtase espiritual (no Negro Spiritual). Paralelamente, num estúdio em Memphis, Tennessee, um grupo capitaneado por Ike Turner (piano) e formado por Jackie Brenston (vocais, saxofone), Willie Kizart (guitarra), Raymond Hill (sax tenor) e Willie Sims (bateria) gravou a canção Rocket 88, na verdade uma releitura de um Blues de Pete Johnson (Rocket 88 Boogie, 1947). O dono do estúdio era Sam Phillips, um dos grandes nomes da gênese do Rock and Roll. Essa canção foi creditada a Jackie Brenston & His Delta Cats, pois conforme reza a lenda, Ike Turner temia que o single fosse um fracasso e por isso, tratou de limar seu nome dos créditos. Mal imaginava ele que este seria o marco zero da História do Rock.
Em 1952, uma banda chamada Bill Haley & His Comets regravou Rocket 88, o que abriria o caminho para que eles lançassem Rock Around The Clock, de 1954, numa levada “mais Country”. 


Bill Haley - Rocket 88



No ano seguinte, essa música foi adequada ao estilo de R&B e acabou sendo tema do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência), considerada a primeira empreitada unindo o Rock ao cinema. Essa versão acabou se convertendo no primeiro grande clássico do Rock and Roll. Consta que os jovens que assistiram ao filme saíram das salas de exibição totalmente excitados com o Rock (e olha que a canção só aparece nos créditos finais do filme). Há relatos de cadeiras quebradas em alguns cinemas americanos. Bill Haley foi aclamado, assim, o Pai do Rock.


14. As Race Records

a) Comentários
Os Race Records eram discos fonográficos de 78 rpm comercializados para afro-americanos entre as décadas de 1920 e 1940. Eles continham principalmente música racial, compreendendo vários gêneros musicais afro-americanos, incluindo blues, jazz e música gospel, e também comédia. Esses discos foram, na época, a maioria das gravações comerciais de artistas afro-americanos nos Estados Unidos. Poucos artistas afro-americanos foram comercializados para públicos brancos. Os Race Records foram comercializados pela Okeh Records, Emerson Records, Vocalion Records, Victor Talking Machine Company (RCA Victor), Paramount Records e várias outras empresas.

Selo da Okeh Race Records

Cartaz da Okeh Records

Selo da Emerson Race Records

Cartaz da Emerson Records

Selo da Vocalion Race Records

Cartaz da Vocalion Records

Selo da RCA Victor

Selo da Paramount Records

a.1. História
Antes do surgimento da indústria fonográfica na América, o custo dos fonógrafos impedia a maioria dos afro-americanos de ouvir música gravada. Na virada do século XX, o custo de ouvir música caiu, proporcionando à maioria dos americanos a possibilidade de comprar discos. O objetivo principal dos discos era estimular a venda de fonógrafos, que eram mais comumente distribuídos em lojas de móveis. As lojas em que brancos e negros faziam compras eram separadas devido à segregação, e o tipo de música disponível para brancos e negros variava.
Os registros convencionais durante a década de 1890 e as duas primeiras décadas de 1900 foram feitos principalmente e dirigidos aos americanos brancos, de classe média e urbanos. Houve algumas exceções, incluindo George W. Johnson, um assobiador que é amplamente considerado o primeiro artista negro a gravar comercialmente, em 1890. 


George W Johnson - The Laughing Song 1898



George W Johnson - primeiro negro a gravara uma música comercialmente

As estrelas da Broadway, Bert Williams e George Walker, gravaram para a Victor Talking Machine Company em 1901, seguido por artistas negros empregados por outras empresas. No entanto, os artistas afro-americanos que as grandes gravadoras contrataram antes da década de 1920 não foram devidamente recompensados ou reconhecidos. Isso porque os contratos eram dados aos artistas negros com base em um único disco, então suas oportunidades futuras não eram garantidas.
A cultura afro-americana influenciou muito a mídia popular que os americanos brancos consumiam no século XIX. Ainda assim, não havia nenhum gênero musical primariamente negro vendido nos primeiros discos. Perry Bradford, um famoso compositor negro, desencadeou uma transição que mostrou o potencial para artistas afro-americanos. Bradford persuadiu o executivo White da Okeh Records, Fred Hager, a gravar Mamie Smith, uma artista negra que não se encaixava nos moldes da música popular branca. Em 1920, Smith criou sua gravação "Crazy Blues / It's Right Here for You", que vendeu 75.000 cópias para um público de maioria negra no primeiro mês. Okeh não antecipou essas vendas e tentou recriar seu sucesso recrutando mais cantores de Black Blues. 


Mamie Smith - It's Right Here For You



Mamie Smith - Crazy Blues (1920)



Outras grandes empresas buscaram lucrar com essa nova tendência de recordes de corrida. A Columbia Records foi a primeira a seguir Okeh na indústria de discos de corrida em 1921, enquanto a Paramount Records começou a vender discos de Race Records em 1922 e a Vocalion entrou em meados dos anos 1920.

a.2. Terminologia
O termo “Race Records” foi cunhado em 1922 pela Okeh Records. Esses registros foram rotulados de "Race Records" em referência ao seu marketing para afro-americanos, mas os americanos brancos começaram gradualmente a comprar esses registros também. Na edição de 16 de outubro de 1920 do Chicago Defender, um jornal afro-americano, um anúncio da Okeh Records identificou Mamie Smith como "Our Race Artist". A maioria das grandes gravadoras emitiu uma série de discos de "Race" de meados dos anos 1920 aos anos 1940.
Em retrospectiva, o termo registro racial pode parecer depreciativo, mas no início do século 20 a imprensa afro-americana usava rotineiramente o termo raça para se referir aos afro-americanos como um todo e raça homem ou mulher para se referir a um indivíduo afro-americano que mostrou orgulho e apoio ao povo e à cultura afro-americana

a.3. Marketing
O marketing dos Race Records foi especialmente importante no final da década de 1920, quando o rádio trouxe concorrência para a indústria fonográfica. Para maximizar a exposição, as gravadoras anunciavam em catálogos, brochuras e jornais populares entre os afro-americanos, como o Chicago Defender. Eles implementaram cuidadosamente palavras e imagens que atrairiam seu público-alvo. Anúncios da Race Records frequentemente lembravam os leitores de sua experiência compartilhada, alegando que a música poderia ajudar os afro-americanos que se mudaram para o norte a ficarem conectados com suas raízes sulistas. 
Empresas como Okeh e Paramount reforçaram seus objetivos na década de 1920, enviando caçadores de campo aos estados do Sul para gravar artistas negros em um acordo único. Os escoteiros negligenciaram as aspirações de muitos cantores de continuar trabalhando com suas companhias. As gravações de campo foram apresentadas ao público como encontros casuais para parecerem mais genuínos, embora fossem tipicamente arranjados. 
As perspectivas sobre o motivo pelo qual as gravadoras brancas investiram no marketing dos discos de Race Records, com alguns alegando que foi “com o propósito de explorar mercados e expandir o capital dos produtores”. Os defensores dessa filosofia enfatizam o controle que as empresas tinham sobre o tipo e a forma das músicas que os artistas podiam criar. Outra perspectiva aponta para evidências como o fato de que "os Race Records eram distinguidos por séries numéricas ... na verdade, listas segregadas", para apoiar a alegação de que empresas brancas possuíam o objetivo de manter as divisões raciais na sociedade por meio de registros raciais. As empresas de mídia até implementaram estereótipos raciais na publicidade para invocar sentimentos Negros e vender mais discos. Outros consideram os investimentos motivados simplesmente pelo lucro, nomeadamente pelo baixo custo de produção resultante da fácil exploração de escritores e músicos negros, aliado à facilidade de distribuição a uma classe de consumidores altamente segmentada e com pouco acesso a um ambiente totalmente competitivo Mercado.

a.4. O fracasso dos Race Records 
A Grande Depressão destruiu o mercado dos Race Records, deixando muitos músicos afro-americanos sem emprego. Quase todas as grandes companhias musicais retiraram os discos dos Race Records de seus catálogos enquanto o país recorria ao rádio. O número de ouvintes negros no rádio permaneceu consistentemente abaixo de dez por cento da população negra total durante este tempo, já que a música que eles gostavam não tinha tempo de transmissão. A exclusão de artistas negros no rádio foi ainda mais cimentada quando redes comerciais como NBC e CBS começaram a contratar cantores brancos para fazer covers de música negra. Não foi até depois da Segunda Guerra Mundial que rhythm and blues, um termo que abrange a maioria dos subgêneros de registros raciais, ganhou prevalência no rádio.
Foi observado que "áreas inteiras da tradição do vocal negro foram esquecidas ou, na melhor das hipóteses, receberam algumas referências tangenciais." Embora não tenha sido estudado de forma abrangente, os Race Records foram preservados. Publicações como Dixon e Godrich's Blues e Gospel Records 1902-1943 lista os nomes dos registros dos Race Records que foram comercialmente registrados e registrados no campo.

Blues & Gospel Records 1890-1943

a.5. Transição para rhythm and blues
A Billboard publicou uma parada da Race Records entre 1945 e 1949, cobrindo inicialmente audições nos jukeboxes e, a partir de 1948, também cobrindo as vendas. Esta foi uma versão revisada do gráfico Harlem Hit Parade, que foi introduzido em 1942.
Em junho de 1949, por sugestão do jornalista da Billboard Jerry Wexler, a revista mudou o nome da parada para Rhythm & Blues Records. Wexler escreveu: " ' Raça' era um termo comum então, uma referência própria usada por negros ... Por outro lado, 'Race Records' não caiu bem ... Eu criei uma alça que achei adequada para música bem - 'rhythm and blues.' [Era] um rótulo mais apropriado para tempos mais iluminados. " Desde então, a parada passou por novas mudanças de nome, tornando-se a parada Soul em agosto de 1969, e a parada preta em junho de 1982.

b) Black Swan Record


A Black Swan Records foi a primeira gravadora de propriedade de negros que vendeu música popular para o público negro. A Black Swan Records se especializou em gravações de jazz e blues, mas também se tornou a primeira empresa a gravar músicos clássicos negros. Durante sua breve existência de 1921 e 1923, a Black Swan Records lançaria mais de 180 discos, um número que ultrapassou de longe qualquer gravadora subsequente de propriedade de negros até os anos 1950.

Harry Pace Fundador da Black Swan Records

Com sede no Harlem, Nova York, a Black Swan Records foi fundada em 1921 como a divisão de discos da Pace Phonographic Corporation por Harry Pace, um editor musical e ex-professor de grego e latim. Pace nomeou a divisão em homenagem à cantora de ópera afro-americana Elizabeth Taylor Greenfield (1809-1976), conhecida como "O Cisne Negro". 

Elizabeth Taylor Greenfield

A missão da gravadora era atender acionistas, funcionários, cantores e músicos negros. O Conselho de Administração do Cisne Negro incluiu o Dr. Web DuBois , o Dr. Matthew V. Boutte, o Dr. Godfrey Nurse, o Dr. WH Willis, Truman K. Gibson , Viola Bibb, John P. Quander e John E. Nail.
O Maestro Fletcher Henderson trabalhou como diretor de gravação e compositor do Black Swan, enquanto William Grant Still organizava e dirigia a música. Após o lançamento da primeira gravação do Black Swan em maio de 1921, canções como "Down Home Blues" de Ethel Waters rapidamente se tornaram um sucesso. 

Fletcher Henderson

O pianista James P. Johnson gravou alguns de seus primeiros solos para a gravadora. Don Redman, Gus e Bud Aikens, Garvin Bushell, Joe Smith e Ralph Escudero, que mais tarde se tornariam músicos de jazz proeminentes, tocaram back-up em muitas das gravações do selo. Os Black Swan Troubadours, que incluíam Henderson e Waters, viajaram pelo Sul para promover as gravações da gravadora.
Em 1922, Pace fez um acordo econômico com a Olympic Disc Record Corporation, de propriedade branca. A Black Swan Records começou a vender bandas brancas, mas ainda anunciava sua dedicação em gravar exclusivamente cantores e músicos negros. Enquanto isso, grandes gravadoras de propriedade de brancos começaram a dominar o mercado de artistas negros e cortar o negócio do Cisne Negro. O conflito público entre Pace e Marcus Garvey (ativista político, editor, jornalista, empresário e comunicador jamaicano. Foi fundador e primeiro presidente da Associação Universal para o Progresso Negro e Liga das Comunidades Africanas, organização através da qual se autoproclamou "presidente provisório da África) também contribuiu para o declínio da empresa. Apesar da queda nas receitas, a gravadora continuou a gravar e comercializar composições clássicas, que não venderam tão bem quanto as gravações de blues e jazz da gravadora.
Em dezembro de 1923, a Black Swan Records declarou falência e a Paramount comprou o catálogo da gravadora em março seguinte. Ainda assim, o legado da Black Swan Records será sua discografia inovadora e seu sucesso em forjar uma presença afro-americana no mercado musical mainstream.


15. Alan Freed

Um dos mais importantes popularizadores do Rock and Roll durante os anos 50, Alan Freed foi o primeiro disc jockey e produtor de shows de Rock and Roll. Muitas vezes creditado por cunhar o termo Rock and Roll em 1951, ostensivamente para evitar o estigma associado ao R&B e à chamada música racial, Freed abriu as portas para a aceitação da música negra pelos brancos, evitando as versões de capa branca em favor dos originais R&B.

Alan Freed

Albert James Freed nasceu em 15 de dezembro de 1922 em Johnstown, Pensilvânia, de mãe galesa e pai lituano. Ele era um dos três filhos de Maude e Charles Freed, um vendedor de loja de roupas. Em 1933, quando Freed tinha 12 anos, sua família mudou-se para Salem, Ohio. Ele frequentou a Salem High School, durante a qual formou uma banda conhecida como Sultans of Swing, na qual tocava trombone. Sua ambição era tornar-se um líder de banda, mas uma infecção no ouvido acabou com essa possibilidade. Depois de se formar no ensino médio em 1940, ele se matriculou na Ohio State University, onde estudou engenharia por um ano. Foi nessa época que ele desenvolveu um interesse pelo rádio
Depois que os japoneses bombardearam Pearl Harbor, Freed ingressou no Exército dos Estados Unidos, onde foi designado para a Patrulha de Esqui. Foi nessa época que ele desenvolveu uma grave infecção de ouvido que o levou a receber alta. Ele então se matriculou na Ohio State University, onde fez mestrado. Retornando a Salem, ele foi trabalhar como inspetor do governo em fábricas militares. Foi aqui que ele conheceu sua primeira esposa Betty Lou Bean. Eles se casaram em 1942.
Enquanto trabalhava para o governo, Freed matriculou-se em um curso noturno de radiodifusão em Youngstown, Ohio. Depois de terminar, ele conseguiu um emprego em várias estações pequenas. Seu primeiro na WKST (1942) em New Castle, Pensilvânia, onde tocou música clássica por US $ 45 por semana. Em seguida foi a transmissão de esportes na WKBN (1942) e WAKR (1945), onde se tornou um favorito local, tocando jazz quente e gravações pop. Ambas as estações estavam em Akron, Ohio. Em 1949, Freed conseguiu um emprego e mudou-se para a WXEL-TV em Cleveland.

a) WAKR Akron

Em 1945, Alan Freed juntou-se ao WAKR e se tornou um dos favoritos locais, tocando jazz quente e gravações pop. O editor de rádio do Akron Beacon Journal seguiu Freed e seu programa noturno de dança "Request Review". 

Prédio da WAKR

Quando ele deixou a estação, a cláusula de não concorrência em seu contrato limitou sua capacidade de encontrar trabalho em outro lugar, e ele foi forçado a trabalhar no turno da noite na rádio WJW de Cleveland, onde acabou fazendo história tocando a música que chamou de "Rock and Roll”.

b) WJW Cleveland

No final dos anos 1940, enquanto trabalhava na WAKR (1590 AM) em Akron, Ohio, Freed conheceu o dono da loja de discos de Cleveland, Leo Mintz. A Record Rendezvous, uma das maiores lojas de discos de Cleveland, começou a vender discos de Rhythm and Blues. Mintz disse à Freed que havia percebido um interesse crescente pelos discos em sua loja e o encorajou a tocá-los no rádio. Freed mudou-se para Cleveland em 1951, ainda sob uma cláusula de não competição com WAKR. No entanto, em abril, com a ajuda de William Shipley, distribuidor da RCA no norte de Ohio, ele foi dispensado da cláusula de não competição. Ele foi então contratado pela rádio WJW para um programa da meia-noite patrocinado pela Main Line, o distribuidor RCA e a Record Rendezvous. Freed temperou seu discurso com uma linguagem hipster e, com um disco de Rhythm and Blues chamado "Moondog" como sua música tema, transmitiu sucessos de R&B noite adentro.

Cartaz da WJW anunciando o Programa de Alan Freed

Mintz propôs comprar tempo de antena na estação de rádio de Cleveland WJW (850 AM), que seria inteiramente dedicado a gravações de R&B, com Freed como apresentador.
Em 11 de julho de 1951, Freed começou a tocar discos de Rhythm and Blues na WJW. Embora discos de R&B tenham sido tocados por muitos anos em estações de rádio urbanas de baixa potência voltadas para afro-americanos, esta é sem dúvida a primeira vez que o R&B autêntico foi apresentado regularmente em uma grande estação de grande audiência. Freed chamou seu show de "The Moondog House" e se autodenominou "The King of the Moondoggers". Ele foi inspirado por um instrumental excêntrico chamado "Moondog Symphony", que foi gravado pelo músico de rua de Nova York Louis T. Hardin, também conhecido como " Moondog". Freed adotou o disco como música tema de seu programa. Seu jeito ao vivo era enérgico, em contraste com muitos apresentadores de rádio contemporâneos de música pop tradicional, que tendiam a soar mais moderada e discreta. Ele se dirigia aos ouvintes como se eles fossem, todos, parte de um reino fictício de descolados, unidos em seu amor pela música negra. Ele também começou a popularizar a frase "Rock and Roll" para descrever a música que tocava. 
Mais tarde naquele ano, Freed promoveu danças e shows com a música que tocava no rádio. Ele foi um dos organizadores de um show de cinco atos chamado " The Moondog Coronation Ball " em 21 de março de 1952, no Cleveland Arena. Este evento é conhecido como o primeiro show de Rock and Roll. Multidões compareceram muito além da capacidade da arena, e o show foi encerrado mais cedo devido à superlotação e quase tumulto. Freed ganhou uma notoriedade inestimável com o incidente. WJW imediatamente aumentou o tempo de antena alocado para o programa de Freed, e sua popularidade disparou. 

The Moondog Coronation Ball 1952

Naquela época, Cleveland era considerada pela indústria da música uma cidade "revolucionária", onde as tendências nacionais apareciam pela primeira vez em um mercado regional. A popularidade de Freed fez com que a indústria da música pop tomasse conhecimento. Logo, fitas do programa de Freed, Moondog , começaram a ir ao ar na área da cidade de Nova York pela estação WNJR 1430 (agora WNSW ), em Newark, New Jersey.

c) O Moondog’s Rock’n’Roll Party

Devido aos preconceitos da época Freed passou a chamar os discos de Rhythm and Blues, que ele tocava, de Rock "n" Roll. O que é irônico o termo que Freed estava usando para tornar o Rhythm and Blues mais aceitáveis para um público branco era uma gíria para sexo na comunidade negra.
Em 1951, um grupo de black vocais The Dominoes gravou "Sixty Minute Man", que foi um sucesso (# 1 R&B e # 17 pop). As letras eram altamente sugestivas e usavam Rock and Roll nas letras. Freed começou a usar o termo um mês depois e provavelmente foi inspirado por essa música.


The Dominoes - Sixty Minute Man



Freed chamaria seu show de Moondog's Rock 'n' Roll Party . O sucesso dos shows levou ao Moondog Coronation Ball de Freed em março de 1952, em Cleveland. Os melhores artistas negros foram agendados para o show. Seis mil fãs bateram nos portões, além dos milhares já presentes no salão de 10.000 lugares. Dois terços do público eram brancos
Freed começou sua própria gravadora, Champagne Records, e o primeiro ato assinado foi o Crazy Sounds. Mais tarde, ele mudaria seu nome para Moonglows. O irmão de Freed, David, tinha uma pequena empresa chamada Lance Distribution, especializada principalmente em R&B, que cuidava da distribuição de Champagne.

Selo da Champagne Records – Empresa de Alan Freed

Após a mudança de Freed para Nova York, houve uma controvérsia sobre sua famosa marca registrada, Moondog. Dizia respeito a um músico de rua chamado Thomas Louis Hardin, que adotou o nome Moondog. Hardin, um excêntrico músico de rua cego, que se vestia de viking, vendia guarda-chuvas em uma barraca na esquina da 54th Street com a Sixth Avenue. Hardin não gostou do fato de Freed usar seu "apelido" e entrou com uma ação judicial por US $ 100.000 e pedindo à Suprema Corte de Nova York que emitisse uma ordem de cassação. Os fatos que ele apresentou foram que ele usava o nome Moondog desde 1947, enquanto Freed o usou a partir de 1951 com o argumento decisivo de que Freed não começou a se chamar de "Moondog" e começou a tocar "Moondog Symphony" em seu programa de rádio em Cleveland. O compositor dessa música foi ninguém menos que Thomas Louis "Moondog" Hardin. Caso encerrado. O juiz decidiu a favor de Hardin, ordenou que Freed pagasse a ele US $ 5.700 por danos e parasse de usar o nome. Posteriormente, ele chamou seu show de Festa do Rock 'n' Roll de Alan Freed.
O programa era tão popular que, em dois anos, o salário de Freed passou de uma base de US $ 15.000 mais 25% do dinheiro de publicidade de seu programa para uma renda anual superior a US $ 750.000. Em 1955, Freed estava aparecendo em uma série de filmes de Rock and Roll que custaram algumas centenas de dólares para fazer e arrecadaram milhões.
O Big Beat de Freed foi ao ar em Nova York, primeiro na WABC-TV; então, em 1959, no WNEW
Uma hora de amostra da festa do Rock 'n' Roll de Alan Freed
Em 1957, a ABC-TV deu a Freed seu próprio show de Rock & Roll na televisão nacional, mas um episódio em que Frankie Lymon dançou com uma garota branca enfureceu treze afiliados do sul da ABC e o show foi cancelado.

d) WINS Nova York

Em julho de 1954, após seu sucesso no ar em Cleveland, Freed mudou-se para o WINS (10h10) na cidade de Nova York. Hardin, o Moondog original, mais tarde entrou com uma ação judicial contra o WINS por danos contra Freed por infração em 1956, alegando uma reclamação anterior sobre o nome "Moondog", sob o qual ele compôs desde 1947.

WINS Nova York

Hardin recebeu uma sentença de $ 6.000 de Freed, bem como um acordo para renunciar ao uso futuro do nome Moondog. WINS eventualmente se tornou uma das 40 estações de rádio de Rock and Roll 24 horas, e permaneceria assim até 19 de abril de 1965 - muito depois de Freed partir e três meses depois de sua morte - quando se tornou um veículo de notícias.

Alan Freed na WINS de Nova York

Em 1956, Freed apresentou a "Festa de Dança Rock 'n' Roll de Alan Freed" na CBS Radio de Nova York. 

e) Rockin 'the East Coast

Em 1954, o show de Freed na WJW foi gravado para a WNJR em Newark, a cidade na qual ele apresentou seu primeiro concerto ao vivo na Costa Leste no dia 1º de maio; foi uma lotação esgotada. A notícia da popularidade de Freed se espalhou por Nova York, onde ele entrou para a rádio WINS por um salário de 25.000 dólares por ano. O diretor do programa Bob Smith contratou Freed sem saber se ele era negro ou branco. 'Moondog's Rock'n'Roll Party', que funcionou das 19h às 23h, seis noites por semana, foi ao ar pela primeira vez no WINS em 8 de setembro de 1954, mas outro Moondog, mas após o processo pelo uso do nome “Moondog” o show se tornou simplesmente 'Rock'n'Roll Party'. Em janeiro de 1955, Freed apresentou seu primeiro concerto em Nova York na St Nicholas Arena; a audiência era 70% branca e 30% negra. Na Páscoa seguinte, ele trouxe um show para a Paramount do Brooklyn; este, apresentando os Moonglows e os Pinguins, tornou-se o protótipo para os muitos shows de Páscoa, Dia do Trabalho e Natal que se seguiram.

Cartaz de Alan Freed na WINS

Durante o final dos anos 50, os shows da Paramount de Freed quebraram recordes de bilheteria em várias ocasiões, arrecadando até 300.000 dólares nos 12 dias entre o Natal e o Ano Novo. Normalmente havia seis ou sete shows por dia com 15 atos na conta. A polícia patrulhou os corredores e a Billboard relatou uma atmosfera semelhante à de Alcatraz, enquanto a Variety revista considerou semelhante a ter um assento no corredor para o terremoto de San Francisco. Além de sua receita (envolvendo somas nunca antes ouvidas para um promotor), Freed formou e dirigiu sua própria banda, que gravou para o Coral; a gravadora pagava a Freed 25.000 dólares por ano. Ele também gravou programas semanais para estações em Baltimore, St Louis e atraiu nada menos que 4.000 fãs-clubes - principalmente na costa leste dos Estados Unidos - e presidiu legiões de proprietários de gravadoras de Nova York, promotores e representantes de editores, a maioria dos que ajudou a encher os cofres de Freed com "presentes" em joias, bebida e - o que mais tarde foi considerado o mais danoso de tudo - pagamentos em dinheiro.

f) Freed no cinema

Em 1956, Freed estrelou os filmes “Rock Around The Clock” e “Don't Knock The Rock”. Retratando-se como um amigo paternal para a juventude da nação - ajudando-os e Rock'n'Roll a vencer todas as adversidades - Freed parecia duro e nem um pouco carismático. 

Cartaz do filme “Rock Around the Clock”

Cartaz do filme “Don’t Knock The Rock”

Mas ao fazer esses dois filmes, e também “Rock, Rock, Rock” (1957), Mister Rock'n'Roll (1957) e Go Johnny Go! (1959), Freed desfrutou da amizade genuína de seus colegas de elenco. 

Cartaz do filme “Rock Rock Rock”

Quando Earl CarRoll dos Cadillacs (que apareceu em “Go Johnny Go! “). Foi questionado se Freed era realmente o Sr. Sinceridade, ele respondeu: “O homem é lindo, simplesmente lindo ... ele era um homem justo e me mantinha com comida na mesa algumas vezes. Ele era real.

Cartaz do filme “Mister Rock and Roll”

Outro artista que teve Freed em alta conta foi Chuck Berry, que afirmou: “Ele era um irmão, você sabe. A gravadora deu a ele, mas ele nunca sonhou nada. ” O nome de Freed apareceu entre os créditos de composição de 'Maybellene' e 'Sincerely' dos Moonglows, embora ele também não tenha escrito; mas, por outro lado, Chuck Berry e os Moonglows apareceram em seus filmes e monopolizaram seu toca-discos. 

Cartaz do filme “Go Johnny Go”

Os Moonglows, cujo nome está ligado ao show Moondog, gravaram seu primeiro disco para o selo Freed's Champagne e ele os apresentou aos selos subsequentes, Chance and Chess. Freed era, em muitos aspectos, uma figura ambivalente, pois além de promover o Rock'n'Roll, ele fez uma pequena fortuna com isso; muitos artistas receberam uma redução considerável de seus royalties devidos porque o nome de Freed apareceu nos créditos das composições, mas por outro lado,seu patrocínio ajudou os registros a terem sucesso.


The Moonglows - I've Been Your Dog (Ever Since I've Been Your Man)



É importante notar que Freed nunca divulgou um disco de que não gostou. Ele não só deu exposição a Fats Domino, Little Richard e outras estrelas, mas também tocou canções obscuras de R&B e Rockabilly, transformando Billy Brooks, Mac Curtis, Barbie Gaye (que cantou o original 'My Boy Lollipop' em estrelas de vida curta) e dezenas de grupos vocais negros. Ele se recusou a tocar Pat Boone ou os Crewcuts e atacou os disc jóqueis que preferiam seus discos cover de imitação pálida. "Eles são anti-negros", disse ele a Vic Fredericks. 'Se não é isso, o que é? Oh, eles sempre podem desculpar, alegando que as capas são de melhor qualidade, mas eu desafio qualquer um a me mostrar que a qualidade do original 'Tweedlee Dee' [LaVern Baker] ou 'Seven Days' [Clyde McPhatter] é ruim. '

g) Rei em seu castelo

Além dos artistas que patrocinava tão assiduamente, Freed não fazia amigos com muita facilidade. 'Seu ego era enorme', disse o diretor do programa de rádio Bob Smith. "Ele era um indivíduo impossível em termos pessoais." O estilo de Freed ofendeu muitos. Ele morava em uma mansão de estuque de 16 quartos com vista para Long Island Sound em um bairro exclusivo de Stamford. Em 1957, seu medo de automóveis tornou-o um tanto recluso, e a estação equipou sua casa com instalações de transmissão remota. Alguns dos artistas mais sofisticados não gostavam da vulgaridade de Freed e se ressentiam por ter de visitar "Sua Majestade, o Rei em seu castelo de Connecticut", como disse certa vez Jerry Wexler da Atlantic. Se havia um luxo que faltava a Freed, era um assessor de imprensa para lhe dizer como apresentar a imagem correta.
Em 3 de maio de 1958, Fred apresentou o 'Big Beat Show' na Boston Arena, com Jerry Lee Lewis no topo da lista. Para evitar dançar nos corredores, a polícia ligou as luzes. Pedindo desculpas ao público, Freed teria dito: 'Ei, crianças, a polícia de Boston não quer que vocês se divirtam'. Na orgia de violência que se seguiu em toda a cidade, vários bostonianos foram espancados, esfaqueados e roubados.

The Boston Arena

O Rock'n'Roll foi proibido não apenas em Boston, mas no Maine, Connecticut e Nova Jersey. Indiciado sob as leis anti-anarquia, Freed foi acusado de incitar perversamente e maliciosamente tanto um motim quanto a destruição ilegal de propriedade. As acusações foram retiradas após 17 meses de argumentação judicial, deixando Freed com honorários advocatícios que garantiram sua falência. O WINS não o apoiou durante a crise e ele deixou a estação desgostoso. Além disso, a Paramount de Brooklyn se recusou a hospedar outros shows de Freed. A popularidade entre os adolescentes não salvou o DJ da ira do establishment.
Freed mudou-se para WABC, onde começou a apresentar o 'Big Beat Show'. Em poucas semanas, uma investigação sobre programas de perguntas e respostas de televisão fraudados se ampliou para um exame público de payola. Em novembro de 1959, Freed foi demitido do Wabc depois de se recusar a assinar uma declaração negando ter recebido subornos em troca de tocar discos. 

Alan Freed na WABC

O desafiador disc-jockey informou à imprensa que o que a transmissão chamava de payola, Washington chamava de 'lobbying' - um comentário que pouco fez para torná-lo querido do sistema. Depois de testemunhar perante o Subcomitê Harris de Supervisão Legislativa ('as audiências do payola'), Freed foi preso no estado de Nova York por 26 acusações de suborno comercial, totalizando mais de 30.000 dólares. Em dezembro de 1962, após se confessar culpado de algumas das acusações, ele recebeu uma sentença suspensa de seis meses e uma multa de 300 dólares.
Em 1959, Freed começou a trabalhar para a rádio KDAY em Los Angeles na tentativa de reanimar sua carreira, mas em 1964 foi acusado de sonegação de imposto de renda em 47.920 dólares recebidos entre 1957 e 1959. Dez meses depois, em 20 de janeiro de 1965, ele morreu de uremia em um hospital de Palm Springs aos 42 anos. Ele deixou uma terceira esposa, Inga, e seus quatro filhos em casamentos anteriores.
Freed merece ser lembrado por seus esforços aventureiros - até mesmo imprudentes - em prol da música que amava. Suas primeiras danças não segregadas freqüentemente desafiavam os costumes locais e sua preferência por artistas negros não era universalmente popular. Seu breve show 'Rock'n'Roll Dance Party' na cbs-tv, cancelado quando as câmeras captaram Frankie Lymon dançando com uma garota branca, também enfureceu os segregacionistas. 


Interracial Teens Dance on Alan Freed's Big Beat Show 1959



Mais tarde, Freed foi ao mesmo canal de televisão para defender as polêmicas núpcias de Jerry Lee Lewis ('esses meninos do Sul se casam com jovens') e muitas vezes parecia tolerar a delinquência (“Eles não são meninos maus, se o teatro tiver alguns lugares quebrados, esse é o problema deles '). Quaisquer que sejam as fragilidades pessoais de Freed, ele fez muito mais do que a maioria dos brancos para popularizar a música negra. "Ele morreu", disse o New York Post, 'dependendo se você obtém uma versão mais rápida ou um Blues lento, de um coração partido ou de uísque demais.' 

h) Problemas legais, escândalo de payola

Em 1958, Freed enfrentou polêmica em Boston quando disse ao público: "Parece que a polícia de Boston não quer que você se divirta". Como resultado, Freed foi preso e acusado de incitar a rebeliões, e foi despedido de seu emprego no WINS. 
Embora as acusações tenham sido rejeitadas posteriormente, o WINS não conseguiu renovar o contrato de Freed. Este incidente o forçou à falência e seria apenas o começo dos problemas legais de Freed.
Esta ação pegou Freed de surpresa, já que seu contrato com a estação rendia 25% do que seus shows ganhavam. Na verdade, Freed, que se considerava um "embaixador da boa vontade" da estação, contava com a estação pagando pela sua defesa.
Dentro da indústria, havia uma crença generalizada de que Fred foi criado - que as audiências foram motivadas pela ASCAP, que representava os compositores e editores de música pop, muitas das quais Freed se recusou a tocar.

“Eu nunca levo um centavo para plugar um disco, seria um tolo se fizesse isso; estaria abrindo mão do controle do meu programa”.
Alan Freed

Incapaz de impor qualquer punição formal a Freed, ele redigiu um projeto de lei que tornava o ato de dar ou receber payola um crime federal, punível com até dois anos de prisão.
Em 8 de fevereiro de 1960, um Grande Júri de Nova York começou a pesquisar informações sobre suborno comercial na indústria fonográfica e, em 19 de maio de 1960, oito homens foram acusados de receber $ 116.580 em gratificações ilegais. Essa investigação levaria Freed a ser acusado de evasão de imposto de renda pelo IRS.
Freed não foi o único DJ intimado pelo Comitê de Supervisão e se recusou a testemunhar, apesar de ter recebido imunidade. O julgamento começou em dezembro de 1962 e terminou com Freed se confessando culpado de duas das sete acusações de suborno comercial, recebendo uma multa de $ 300 e uma sentença suspensa de seis meses. Ele também foi acusado de aceitar mais de $ 30.000 em subornos de sete gravadoras e se declarou culpado por aceitar apenas $ 2.000 de uma e $ 700 de outra.
Ironicamente, o que selou seu destino foram as admissões diretas e detalhadas de Freed ao comitê sobre os pagamentos que ele havia aceitado de distribuidores e gravadoras como consultor musical. O fato de a ABC o ter despedido por se recusar a assinar um juramento humilhante e abrangente negando a participação em práticas corruptas, embora não perguntando o mesmo do outro funcionário contratado da empresa, Dick Clark, apenas aprofundou a percepção dos membros do comitê e da imprensa sobre Freed corrupção. Menos de um mês depois de seu depoimento, a polícia de Nova York prendeu o desgraçado DJ sob a acusação de ter embolsado um payola no valor de US $ 116.850.
Em janeiro de 1963, ele foi preso sob um mandado acusado de não ter pago a multa imposta seis meses antes. Embora ele tenha recebido apenas uma multa de $ 300 e 6 meses de pena suspensa, sua carreira estaria encerrada.
Falido, desanimado e frequentemente bêbado, libertado e transferido para Palm Springs.
Forçado a deixar Nova York, Freed trabalhou brevemente na KDAY (propriedade da mesma empresa que era dona do WINS) em 1960, em Los Angeles, mas quando a administração se recusou a deixá-lo promover shows de Rock & Roll ao vivo, Freed deixou a estação e voltou a Manhattan para ser mestre de cerimônias de uma revista Twist ao vivo. Quando a onda de reviravoltas esfriou, ele se tornou disc jockey na WQAM (Miami, FL). Percebendo que seu sonho de retornar à rádio de Nova York era apenas isso, o hábito de beber de Freed aumentou. O trabalho em Miami durou apenas dois meses.
Feed passou seus últimos dias sozinho, ligando para amigos no negócio da música e pedindo dinheiro para aluguel e contas de mercearia.
Em 15 de março de 1964 Freed foi indiciado por um grande júri federal por sonegação de impostos. O IRS alegou que Freed devia $ 37.920 de imposto não declarado de $ 56.652 para os anos 1957-59. Na época, morando em Palm Springs, Califórnia, Freed era pobre, desempregado e sem emprego. Antes que pudesse responder às acusações, ele entrou em um hospital sofrendo de uremia, uma condição causada pela retenção no corpo de venenos normalmente expelidos na urina. Alan Freed morreu em 20 de janeiro de 1965 de cirrose, um homem quebrado e sem um tostão. Ele tinha 43 anos.
Freed realmente amava o Rock and Roll, alegou nunca ter tocado um disco que não gostasse e nunca esqueceu de onde veio a música. No entanto, ele era um homem imperfeito que reclamava créditos de composição que não eram seus, pagava muito pouco aos artistas em suas turnês e associava-se a indivíduos questionáveis.

i) Cinema e televisão

Freed também apareceu em uma série de filmes pioneiros do Rock and Roll durante este período. Esses filmes eram frequentemente recebidos com tremendo entusiasmo pelos adolescentes porque traziam representações visuais de seus atos americanos favoritos para a tela grande, anos antes de os videoclipes apresentarem o mesmo tipo de imagem na pequena tela da televisão.
Freed apareceu em vários filmes que apresentaram muitos dos grandes atos musicais de sua época, incluindo:

• 1956: Rock Around the Clock com Freed, Bill Haley e seus cometas, The Platters, Freddie Bell e os Bellboys, Lisa Gaye.

• 1956: Rock, Rock, Rock apresentando Freed, Teddy Randazzo , Tuesday Weld , Chuck Berry , Frankie Lymon e os adolescentes, Johnny Burnette , LaVern Baker , The Flamingos , The Moonglows.

• 1957: Mister Rock and Roll com Freed, Rocky Graziano e Teddy Randazzo, Lionel Hampton, Ferlin Husky , Frankie Lymon , Little Richard , Brook Benton , Chuck Berry, Clyde McPhatter , LaVern Baker , Screamin 'Jay Hawkins .

• 1957: Don't Knock the Rock com Freed, Bill Haley e seus cometas, Alan Dale , Little Richard e os Upsetters, The Treniers , Dave Appell e seus Applejacks.

• 1959: Vá, Johnny Go! Apresentando Freed, Jimmy Clanton , Chuck Berry, Ritchie Valens , Eddie Cochran , The Flamingos , Jackie Wilson , The Cadillacs , Sandy Stewart, Jo Ann Campbell , Harvey Fuqua e The Moonglows . Chuck Berry também interpretou o amigo e ajudante de Freed, um papel inovador naquela época.

Freed recebeu uma série semanal de TV em horário nobre, The Big Beat, que estreou na ABC em 12 de julho de 1957. O programa foi agendado para uma temporada de verão, com o entendimento de que, se houvesse espectadores suficientes, continuaria no Temporada de televisão de 1957–58. Embora as avaliações do programa fossem fortes, ele foi encerrado repentinamente após quatro semanas. Durante o segundo episódio, o cantor negro Frankie Lymon foi mostrado dançando com uma garota branca da platéia do estúdio: o incidente causou um alvoroço entre as afiliadas locais da ABC no Sul e "supostamente levaria ao cancelamento do show".
Durante este período, Freed foi visto em outros programas populares da época, incluindo To Tell the Truth , onde ele é visto defendendo o novo som "Rock and Roll" para os palestrantes, que estavam todos claramente mais confortáveis com a música swing: Polly Bergen , Ralph Bellamy e Kitty Carlisle. 
Freed passou a apresentar uma versão local de Big Beat na WNEW-TV em Nova York até o final de 1959, quando foi demitido do programa após o surgimento de acusações contra Freed.

j) Vida pessoal

Em 22 de agosto de 1943, Freed casou-se com a primeira esposa, Betty Lou Bean. Tiveram dois filhos, filha Alana (falecida) e filho Lance. Eles se divorciaram em 2 de dezembro de 1949. Em 12 de agosto de 1950, Freed casou-se com a esposa número dois, Marjorie J. Hess. Eles também tiveram dois filhos, filha Sieglinde e filho Alan Freed, Jr. Eles se divorciaram em 25 de julho de 1958. Em 8 de agosto de 1958, Freed tentou se casar pela terceira vez, com Inga Lil Boling com quem não teve filhos. Eles permaneceram juntos até sua morte. 

k) Legado

Um trecho da introdução de Freed no Moondog Show foi usada por Ian Hunter na abertura da agora clássica canção " Cleveland Rocks ", do álbum de Hunter de 1979, You're Never Alone with a Schizophrenic.


Ian Hunter - Cleveland Rocks 



O filme de 1978 American Hot Wax foi inspirado pela contribuição de Freed para a cena do Rock and Roll. Embora o diretor Floyd Mutrux tenha criado um relato ficcional dos últimos dias de Freed no rádio de Nova York usando elementos da vida real fora de sua cronologia real, o filme transmite com precisão a relação afetuosa entre Freed, os músicos que ele promoveu e o público que os ouvia eles. O filme estrelou Tim McIntire como Freed e incluiu participações especiais de Chuck Berry, Screamin 'Jay Hawkins, Frankie Ford e Jerry Lee Lewis, atuando no estúdio de gravação e sequências de concertos.


American Hot Wax' TV Trailer (1978)



Em 23 de janeiro de 1986, Freed fez parte do primeiro grupo introduzido no Rock and Roll Hall of Fame em Cleveland. 
Em 1988, ele também foi introduzido postumamente no National Radio Hall of Fame. Em 10 de dezembro de 1991, Freed recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. A série Behind The Music da VH1 produziu um episódio em Freed com Roger Steffens. 
Em 1998, o site oficial de Alan Freed foi colocado online com o material dos arquivos de Brian Levant e Michael Ochs , bem como uma biografia da página inicial escrita por Ben Fong-Torres. Em 26 de fevereiro de 2002, Freed foi homenageado no Grammy Awards com o Trustees Award. Em 2017, ele foi introduzido no National Rhythm & Blues Hall of Fame em Detroit, Michigan.

Calçada da Fama de Hollywood




Freed foi usado como personagem no conto de Stephen King, "Você sabe que eles têm uma banda infernal", e foi retratado por Mitchell Butel em sua adaptação para a televisão para a minissérie Nightmares & Dreamscapes. Ele foi o tema de um filme para televisão de 1999, Mr. Rock 'n' Roll: The Alan Freed Story, estrelado por Judd Nelson e dirigido por Andy Wolk. O filme de 1997, Telling Lies in America, é estrelado por Kevin Bacon como um disc jockey com uma vaga semelhança com Freed. Jack Macbrayerretratou Freed no programa Drunk History do programa Comedy Central em um segmento sobre o legado de Freed. A mascote dos Cleveland Cavaliers, Moondog, foi batizado em homenagem a Freed.
Freed é mencionado na música "Do You Remember Rock 'n' Roll Radio?" Dos Ramones como um dos ídolos da banda. Outras canções que fazem referência a Freed incluem "The King of Rock 'n Roll" de Terry Cashman e Tommy West, "Ballrooms of Mars" de Marc Bolan , "They Used to Call it Dope" de Public Enemy , "Payola Blues" de Neil Young , "Done Too Soon" de Neil Diamond , "The Ballad of Dick Clark" de Skip Battin , um membro dos Byrds , e "This Is Not Goodbye, Just Goodnight"por Kill Your Idols .

Mascote dos Cleveland Cavaliers chamado Moondog
Em homenagem a Alan Freed


Ramones - Do you remember rock n' roll radio Live



Terry Cashman e Tommy West - The King Of Rock ‘n’ Roll



T. Rex - Ballrooms Of Mars



Neil Young - Payola Blues



Skip Battin - Ballad Of Dick Clark 1973



Kill Your Idols - This Is Not Goodbye, Just Goodnight






Até o próximo encontro!



domingo, 20 de setembro de 2020

ROCK - Suas Histórias & Suas Magias - Capítulo 9 Parte 3

A História do Rock na Década de 50


8. 1950 e o Rock: a década da música que mudou o mundo - Por Robert Palmer 

Marquee no Paramount Theatre, em Nova York. A placa anuncia 'Férias das Estrelas' de Alan Freed, apresentando os artistas de Rock & Roll Fats Domino, Jerry Lee Lewis, os Everly Brothers, Buddy Holly and the Crickets e Paul Anka em 1956. 

Para alguns de nós, começou tarde da noite: amontoados sob as cobertas do quarto com os ouvidos grudados em um rádio que captava vozes negras carregadas de emoção intensa e impulsionadas por um ritmo cinético selvagem através da estática pós-meia-noite. Crescendo na América do pão branco dos anos 50, nunca tínhamos ouvido nada parecido, mas reagimos, ou nos lembramos de reagir, instantaneamente e nos convertemos. Éramos crentes antes de saber o que havia rasgado de forma tão espetacular o tecido monótono e familiar de nossas vidas. Perguntamos a nossos amigos, talvez um irmão ou irmã mais velha. Nós descobrimos que eles chamavam de Rock & Roll. Era muito mais vital e vivo do que qualquer música que já tínhamos ouvido antes que precisava de uma nova categoria: Rock & Roll era muito mais do que música nova para nós. Era uma obsessão e um estilo de vida. 
Para alguns de nós, tudo começou um pouco mais tarde, com nosso primeiro vislumbre de Elvis na televisão da família. Mas para nós que crescemos nos anos 50, não parecia importar como ou onde ouvíamos a música pela primeira vez. Nossas reações foram notavelmente uniformes. Aqui, sabíamos, estava um cataclismo sônico que explodiu (aparentemente) do nada, com o poder de mudar nossas vidas para sempre. Porque era obviamente, indiscutivelmente nossa música. Se tivéssemos alguma dúvida inicial sobre isso, as reações de horror - ou, na melhor das hipóteses, desdenhosas - de nossos pais baniram essas dúvidas. Crescendo em um mundo que estávamos apenas começando a entender, finalmente encontramos algo para nós: para nós juntos, apenas para nós. 

Jovens dançando nos anos 50 

Mas de onde veio isso? Como isso começou? Setenta anos depois que o Rock & Roll explodiu sobre nós em toda a sua glória, ainda não temos uma resposta simples e definitiva para essas perguntas. Claro, são perguntas capciosas. De onde você acha que o Rock & Roll veio e como você acha que ele cresceu depende de como você define o Rock & Roll. 
Fats Domino, a mais amável e pragmática das estrelas do Rock & Roll de primeira geração, foi questionado sobre as origens da música em uma entrevista para a televisão dos anos cinquenta. “Rock & Roll nada mais é do que Rhythm & Blues”, ele respondeu com franqueza característica, “e temos tocado isso há anos em Nova Orleans”. Esta é uma declaração válida: todos os roqueiros dos anos cinquenta, negros e brancos, nascidos no campo e criados na cidade, foram fundamentalmente influenciados pelo R&B, a música popular negra do final dos anos quarenta e início dos anos cinquenta. R&B era uma rubrica abrangente para o som de tudo, desde bandas de swing de Kansas City a grupos vocais de esquina de Nova York e bandas de Blues desconexas de Delta e Chicago. No que dizia respeito a Fats Domino, o Rock & Roll era simplesmente uma nova estratégia de marketing para o estilo de música que ele gravava desde 1949. Mas, e quanto ao resto dos favoritos do Rock dos anos 50? 

Fats Domino 

Quando chegamos aos casos, descobrimos que vários dos mais distintos e influentes músicos de Rock & Roll de meados dos anos 1950 estavam fazendo música que não poderia, por nenhum esforço da imaginação, ser definida como uma continuação do R&B anterior a 1955. Não havia precedentes claros no R&B para um artista como Chuck Berry, que combinou influências do caipira, do Blues e do swing-jazz em uma medida mais ou menos igual e escreveu canções sobre a vida e a cultura adolescente que os adolescentes negros e brancos acharam igualmente atraentes. (Louis Jordan, o primeiro ídolo de Berry e Bill Haley, chegou mais perto, mas suas canções de história de salto 'n' jive eram voltadas tanto para adultos quanto para adolescentes, e qualquer sabor caipira em seus discos era estritamente um artifício cômico.) , a música popular mainstream nunca tinha visto um artista cuja entrega vocal, movimentos de palco e integração perfeita de influências tão diversas como Blues down-home, pentecostalismo branco e cantos de sucessos remotamente parecidos com os de Elvis Presley . E onde, fora das igrejas mais selvagens e negras de fachada dionisíaca, alguém tinha ouvido ou visto algo como Little Richard? 
Sam Phillips, o patriarca do Rock & Roll cuja gravadora da Sun gravou pela primeira vez Elvis, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Johnny Cash e outros talentos de primeira linha, sugeriu que a verdadeira importância do Rock & Roll dos anos 50 teve muito pouco a ver com o conteúdo musical, muito menos inovação musical. E é perfeitamente verdade que quando você tira a música e a analisa, riff por riff, lick por lick, você encontra uma mistura de conceitos de Blues, big band pré-guerra e swing ocidental, gospel e outros vocabulários existentes. Para Phillips, o significado real do Rock & Roll era duplo. 

Sam Phillips 

Em primeiro lugar, era a única forma de música popular que se dirigia especificamente e era feita sob medida para adolescentes - existiam discos para adultos e para crianças, mas nada para aquele crescimento crescente da população do baby boom, apanhada entre a infância e a idade adulta. Em segundo lugar, o Rock & Roll permitiu aos americanos "marginais" - pobres meeiros brancos, jovens negros do gueto e, não por coincidência, operadores de gravadoras de lojas em lugares distantes como Memphis - a oportunidade de se expressarem livremente, não como fornecedores de R&B e C&W, cujas audiências eram limitadas, mas como uma força dominante no mercado popular. Elvis foi transformado de motorista de caminhão caipira em ídolo de milhões em menos de um ano. De repente, parecia que o céu era o limite, se é que havia um limite. 
O surgimento do Rock & Roll em meados dos anos 1950 não foi apenas uma revolução musical, mas uma convulsão social e geracional de alcance vasto e imprevisível. Também representou uma grande reversão no negócio da música popular. Não havia contrapartes pré-Rock & Roll de Sam Phillips, que transformou um pequeno selo de Memphis com uma equipe de um em uma empresa cujos artistas venderam milhões de discos em todo o mundo. Em termos de gravadoras, Rock & Roll significava que pequenas gravadoras anteriormente especializadas como Sun, Chess e Specialty estavam invadindo os escalões superiores das paradas pop, há muito tempo domínio exclusivo das grandes gravadoras corporativas e da música Tin Pan Alley tradicional - interesses de publicação. 
Concentrando-se em vendas de alto volume e descartáveis pop insossos e de menor denominador comum, os majores foram pegos cochilando por uma coalizão profana de engenheiros de rádio renegados do Sul (Phillips), comerciantes judeus imigrantes (os irmãos Chess), ex-banda negra de swing músicos e homens selvagens caipiras delirantes. Esses eram os americanos “marginais” que vinham gravando para públicos especializados desde que as grandes gravadoras praticamente lhes cederam aquele território no final da Segunda Guerra Mundial. A operação de gravação da fachada de gueto e moedas de um centavo de 1949-53 repentinamente tornou-se um gigante da indústria em 1955-56, respondendo por muitos e frequentemente a maioria dos discos no topo das paradas pop. 

Irmãos Chess 

Como muitas das mesmas pequenas gravadoras que haviam conquistado o mercado de R&B também estavam se interessando pela música country e western e vice-versa, essas músicas estavam se aproximando. A geração mais jovem de fãs de C&W também ouvia e dançava música negra e, como resultado, os músicos brancos de country foram encorajados a gravar canções de R&B e tocar com uma batida mais pesada e enfática. 
Enquanto isso, muitos negros que cresceram em bolsões isolados do sul rural ouviam e eram influenciados pela música country em programas de rádio como o Grand Ole Opry, de Nashville. Artistas negros como Chuck Berry e Bo Diddley descobriram que, quando tocavam uma música que tinha um estilo ou derivação vagamente caipira, o público negro ia em frente. Apesar da segregação racial ainda rígida dos anos 50, a subclasse de brancos e negros de fãs de música e artistas estava encontrando cada vez mais terreno comum. 

Grand Ole Opry em Nasville 

Com o florescimento do baby boom do pós-guerra, os adolescentes, especialmente os adolescentes brancos com dinheiro no bolso, representaram um grupo de consumidores potencialmente enorme e praticamente inexplorado. Não era preciso ser um gênio para perceber, como Sam Phillips e outros proprietários de selos independentes do início dos anos 50, que cada vez mais essas crianças gastadoras estavam ouvindo discos negros, reproduzidos em estações de rádio locais por uma nova geração de Discjockeys de fala negra, mas principalmente de pele branca. Se um artista branco com um estilo R&B e apelo adolescente pudesse ser encontrado ... 
O grande sucesso de Bill Haley and the Comets após o uso de "Rock Around the Clock" em uma sequência chave do filme juvenil-delinquente de 1955 The Blackboard Jungle foi um sinal claro de que R&B e C&W (Haley's Comets foi uma antiga banda de C&W gravar músicas de R&B em um estilo parecido com o de Louis Jordan não ficaria isolado do mainstream da música pop por muito mais tempo. Mas Haley não era exatamente material para ídolos adolescentes. Foi preciso um Elvis Presley cuidadosamente preparado e promovido - que, segundo a lenda, entrou no minúsculo escritório de Sam Phillips para fazer um recorde para o aniversário de sua mãe - para garantir o triunfo do Rock & Roll. 
Para ter sucesso no mercado adolescente, a nova música - nova, pelo menos, para os adolescentes que a abraçaram - precisava de um nome. Rhythm & Blues era um termo datado com conotações exclusivamente pretas. Alan Freed, o disc-jóquei de R&B branco cuja mudança de Cleveland para uma emissora de primeira linha em Nova York em 1954 foi tão crucial para o surgimento do Rock & Roll quanto o aparecimento oportuno do Pelvis, criou o nome. Deve ter divertido Freed e outros insiders que o termo Rock & Roll fosse uma gíria negra para sexo - e já em 1922, quando a cantora de Blues Trixie Smith gravou "My Man Rocks Me (With One Steady Roll)". Era um segredo compartilhado pelos disc-jóqueis, os performers e as crianças: surpreendentemente, “adultos responsáveis” não pareciam “entender”. Certamente, ninguém que estava participando da piada iria soletrar para eles.Os adolescentes estavam desenvolvendo seus próprios códigos de cumplicidade do grupo, expressos em roupas, em apetrechos (de brincos e alfinetes para meninas a canivetes de engraxate) e cada vez mais em sua própria linguagem. O meio que espalhou essa cultura adolescente underground foi o Rock & Roll. 
Desde o início, o selo de Rock & Roll cobriu um amplo terreno musical. O clichê é que o Rock & Roll era uma fusão de música country e Blues, e se você está falando, digamos, de Chuck Berry ou Elvis Presley, a descrição, embora simplista, se encaixa. Mas o som do grupo vocal Black Innercity, que por si só era diversificado o suficiente para acomodar os duros e emotivos Midnighters e 5 Royales, as harmonias neo-barbearia de "grupos de pássaros" como Orioles and the Crows e o som infantil de Frankie Lymon e o Adolescentes ou Shirley e Lee tinham pouco a ver com o Blues ou com a música country em suas formas mais puras. 

Bo Diddley 

A batida de Bo Diddley - que, uma vez que Bo a popularizou, começou a aparecer em gravações de todos, desde o ex-líder de banda de jazz Johnny Otis ("Willie and the Hand Jive") ao Rockabilly texano Buddy Holly ("Not Fade Away") - foi Afro-caribenho em derivação. O riff de baixo mais durável (leia-se “usado demais”) do Rock & Roll dos anos 50, exemplificado por “Blue Monday” de Fats Domino ou “Lawdy Miss Clawdy” de Lloyd Price e Elvis Presley, foi pinçado por Dave Bartholomew, astuto produtor e líder de banda da Domino's , de um registro de filho cubano. O saxofone atlético e barulhento que era a voz instrumental dominante do Rock dos anos 50 antes de a guitarra elétrica se mover para a frente e para o centro saía direto do swing das big band dos anos 40, assim como os dispositivos típicos de arranjadores de Rock & Roll, como riffs de seções de sax e intervalos de parada. Ritmos mexicanos tradicionais entraram na arena do Rock & Roll por meio de artistas chicanos, principalmente Ritchie Valens. O Rock & Roll provou ser um híbrido multiétnico totalmente americano, suas fontes e subestilos em desenvolvimento muito variados para serem explicados por “Blues mais country” ou qualquer outra fórmula reducionista. 
No auge do pandemônio inicial, em 1955-56, surgiu um número seleto de favoritos, estrelas cujas personalidades e travessuras prepararam o palco para tudo o que estava por vir: Elvis, é claro; Chuck Berry, cujo estilo definitivo de guitarra (enraizado no swing jazz e no Blues da banda de T-Bone Walker) foi tão amplamente emulado quanto suas letras brilhantes e vivamente econômicas de tribulações e triunfos adolescentes; Little Richard, o arquétipo do Rock and Roll screamer e artista de striptease ambissexual, com a banda de estrada mais forte e influente do período, os poderosos Upsetters; o amigável e confiável Fats Domino, que misturou Blues e jazz de Nova Orleans com Tin Pan Alley pop e silenciosamente acumulou mais discos de sucesso do que qualquer um, exceto Elvis; Jerry Lee Lewis, o protótipo do homem selvagem do Rock & Roll, sua personalidade de palco e estilo de vida perfeitamente combinados; Buddy Holly and the Crickets, o paradigma da banda de guitarras liderada por cantores e compositores; Sam Cooke, Ray Charles, os 5 Royales e um jovem James Brown, todos os quais representaram êxtases religiosos pentecostais no palco do Rock & Roll e geraram os homens da alma dos anos 60 no processo; e Eddie Cochran, que combinou a aparência de ídolo adolescente com uma inteligência musical sondagem e que percebeu desde cedo que o estúdio de gravação era um instrumento musical.que combinou o visual de ídolo adolescente com uma inteligência musical investigativa e que desde cedo entendeu que o estúdio de gravação era um instrumento musical.que combinou o visual de ídolo adolescente com uma inteligência musical investigativa e que desde cedo entendeu que o estúdio de gravação era um instrumento musical. 

Eddie Cochran 

Certas figuras nos bastidores foram indiscutivelmente tão importantes quanto até mesmo as estrelas cantoras mais brilhantes na construção e na formação do Rock & Roll como um idioma musical viável, com um futuro e um presente espetacular e explosivo. O produtor Milt Gabler, que aplicou o que aprendeu ao produzir as novidades jump-Blues de Louis Jordan nos anos 40, aos sucessos de Bill Haley. Dave Bartholomew, o trompetista de Nova Orleans, líder de banda, compositor e produtor musical, cujos músicos impulsionaram a maioria dos sucessos de Fats Domino e Little Richard. O baterista de Bartholomew, Earl Palmer, que definiu o ritmo do Rock & Roll em Nova Orleans e passou para o primeiro lugar entre a elite dos estúdios de Los Angeles, tocando sem créditos em um número impressionante dos discos mais influentes da época, de "Tutti Frutti" de Richard “Summertime Blues de Cochran. “Se algum músico pode ser creditado por definir o Rock & Roll como um idioma rítmico distinto do salto, R&B e tudo o mais que o precedeu, esse músico certamente é Earl Palmer. Mas foi outro baterista e associado de Little Richard, Charles Connor dos Upsetters, quem primeiro colocou o funk no ritmo, como até admitido. Tom Dowd, da Atlantic Records, apresentou o verdadeiro estéreo e deu aos singles Atlantic dos Coasters, Drifters e muitos outros uma clareza e presença únicas. Sam Phillips foi tão significativo por sua engenhosa engenharia, sua sensibilidade para eco e ambiente, quanto por seu talento em detectar e misturar gêneros. E o populismo multirracial de Phillips, uma postura impopular para um sulista branco nos anos 50, para dizer o mínimo, teve muito a ver com a definição do que poderíamos escolher chamar de espírito do Rock & Roll ou de sua política. Foi Phillips quem expressou com mais clareza, por meio de suas políticas de gravação e de suas declarações públicas, a visão do Rock & Roll como um sonho de igualdade e liberdade. 
Muito foi feito do Rock dos anos 60 como um veículo para mudanças sociais e culturais revolucionárias, mas foi o Rock & Roll de meados dos anos 50 que explodiu, em uma explosão poderosa e concentrada, as propriedades raciais e sociais acumuladas durante séculos. O que poderia ser mais ultrajante, mais ameaçador para a ordem social e sexual subsumida pela frase ingênua valores americanos tradicionais do que um show completo de Little Richard? Lá estava ele, acampando andrógino por um minuto, em seguida, arrancando suas roupas para exibir para uma casa lotada de adolescentes brancas gritando seu corpo negro finamente musculoso. 
É uma medida do potencial revolucionário genuíno do Rock dos anos 50 (em oposição ao estratagema da revolução como marketing corporativo tão característico dos anos 60) que, embora o Rock dos anos 60 eventualmente se acalmasse, foi cooptado ou se extinguiu em excesso descuidado, o Rock & Roll foi interrompido. Frio. 
A aquisição do mercado de música pop pelo Rock & Roll em meados dos anos 50 foi tão ameaçadora para a velha linha de música e entretenimento, quanto para figuras de autoridade profissionais em todos os lugares. A RCA tinha Elvis, mas a maioria dos primeiros sucessos do Rock & Roll estava em operações indie com raízes regionais. A maioria das grandes gravadoras, assim como as editoras de música estabelecidas que foram a espinha dorsal da indústria por mais de um século, reagiram lentamente ao ataque do Rock & Roll, e a maioria definitivamente não gostou disso. 
Foi necessária uma coalizão desses interesses de Tin Pan Alley e congressistas ávidos por publicidade para colocar o Rock & Roll de joelhos com as audiências do payola que coroaram de forma inglória uma década verdadeiramente tumultuada. As audiências do payola conseguiram ridicularizar Alan Freed, que sempre tocou gravações originais em preto, em vez das versões "cover" brancas sem graça oferecidas por oportunistas impetuosos como Pat Boone. 
Ao mesmo tempo, uma combinação de forças econômicas e a aquisição gradual das redes de distribuição de discos por grandes gravadoras tornaram cada vez mais difícil administrar uma pequena gravadora. As gravadoras independentes que lançaram a música e a sustentaram durante os dois ou três anos em que ela devastou a terra cederam à pressão e silenciosamente encerraram suas operações, como Sun e Specialty, ou diversificaram e se tornaram gigantes corporativos, como a Atlantic. 

Selo da Specialty Records 

Além de tudo isso, veio uma série de percalços na carreira de alguns dos principais nomes do Rock. O exército e o coronel Parker conspiraram para deixar Elvis seguro. Chuck Berry foi preso e passou um tempo na prisão. O pequeno Richard desistiu no auge de suas forças para pregar o evangelho. Jerry Lee Lewis casou-se com seu primo quase adolescente e foi rejeitado. Holly, Valens e o Big Bopper caíram em um campo de Iowa. A queda de Alan Freed terminou no fundo, com sua morte como um alcoólatra recluso. 
Durante os poucos anos em que o Rock & Roll de alta octanagem governou sem controle, as possibilidades pareciam incompreensíveis, até mesmo ilimitadas. Visto em retrospecto, todo o caso acaba por ter sido a vanguarda cultural de um movimento em direção à igualdade racial, social e sexual que estava apenas começando a assumir uma forma explicitamente política. Não é um mero acidente da história que a recusa de Rosa Parks em se mudar para a parte de trás de um ônibus segregado do Alabama, o ato germinativo do que se tornou o movimento pelos direitos civis, ocorreu durante a breve ascensão da música pop de artistas como Chuck Berry e Little Richard, homens negros cujos sons e sinais comunicavam sua recusa em responder ao tradicional "Vem cá, garoto!", vindo dos homens racistas. 
Se o Rock & Roll dos anos cinquenta não conseguiu realizar as aspirações criativas e sociais que expressou de forma tão eloquente, em um nível puramente cultural, teve um sucesso além dos sonhos mais selvagens que alguém poderia ter tido na época. Não apenas provou ser mais do que uma moda passageira ou um episódio de loucura juvenil, mas forneceu o modelo, o modelo, o ponto de partida para praticamente todas as ondas subsequentes de inovação da música pop. O melhor do Rock & Roll dos anos 50 pode ter prometido uma utopia que não aconteceria, mas enquanto a música sobreviver, o sonho viverá. 

Fonte 
1950 e o Rock: a década da música que mudou o mundo 
Nascido no R&B e no Country, criado na rebeldia e segregação racial: o Rock n' Roll em seus anos iniciais 
https://Rollingstone.uol.com.br/noticia/1950-e-o-Rock-decada-da-musica-que-mudou-o-mundo/ 


9. O Rock’n’Roll surgiu nos Anos 50? – Por Ramis Al Bud 

Muito além de Elvis Presley, Chuck Berry e Bill Haley… 

Os artistas que ajudaram na formação e consolidação do Rock’n’Roll não ganharam nem os milhões e nem a mesma fama dos artistas do mainstream da época, porém são de igual importância, e não tô falando de obscuridades dos confins dos EUA, muito pelo contrário! 
Pode soar bem clichê, mas uma coisa que é fato é que o Rock teve grande influência de country music e Blues, jazz e gospel, ou contextualizando como na época, música branca e música negra. 
Falando de algo mais concreto, “Rock Around the Clock” de Bill Haley and the Comets é considerado, quase que em um senso popular comum, como o primeiro Rock do mundo, e até eu mesmo sou dessa opinião, em partes… Não como o primeiro Rock do mundo, mas talvez o primeiro Rock comercial do mundo, da maneira que passamos a conhecer e da maneira que o estilo ganhou cara a partir de 1954. Verdade seja dita, o próprio Bill já havia feito outras excelentes tentativas antes, mas nunca por um selo tão expressivo quanto a Decca Records por onde seu maior hit foi lançado, ainda no lado B do compacto que dava destaque à Thirteen Women, essa gravada no lado A (na época era muito comum o hit, ou o que a gravadora considerava hit, sair no lado A do single). E sim… eventualmente as edições seguintes do single inverteram os lados, dando o status de hit ao verdadeiro hit, Rock Around the Clock. 


Bill Haley & His Comets - Rock Around The Clock on The Ed Sullivan Show 



Mas e antes disso? Não existia nada? Claro que existia, e muita coisa! 
Falando de pré Rock’n’Roll e a necessidade que as pessoas tem de ter um marco zero, muitos consideram a legendária gravação de Rocket 88, de Jackie Brenston and His Delta Cats como o primeiro Rock’n’Roll, e dessa vez, o primeiro mesmo. Duas curiosidades interessantes: a primeira é que essa canção foi gravada em março de 1951 nos estúdios da Memphis Recording Service, ou Sun Records eventualmente, se você preferir, e foi lançada pela legendária Chess Records, mesmo selo que lançou Chuck Berry, Muddy Waters, Etta James, e uma infinidade de legendários do Blues. A segunda é que os Delta Cats na verdade eram os Kings of Rhythm, liderados por Ike Turner, que ainda era pianista (e um baita pianista, diga-se de passagem), e Jackie Brenston era saxofonista na banda. Segundo a história, Ike quem iria cantar essa canção mas digamos queseu timbre de voz, não ajudava muito, então, ali na hora, o produtor da sessão, Sam Phillips insistiu para que outro assumisse o posto de vocalista para aquela gravação, e aí Jackie Brenston passou a ser vocalista nessa e em mais um monte de gravações feitas posteriormente. 


Jackie Brenston & His Delta Cats - Rocket 88 



Dan Aykroyd - Rocket 88 



Ainda antes de 1951, muita coisa foi produzida e poderia ser chamada de o primeiro Rock’n’Roll do mundo, mas como eu não faço a mínima questão de dar esse título a nenhuma música (até por que, quem sou eu para isso?), eu vou apenas compilar, de maneira bem rasa e rápida, algumas canções que sem dúvidas tem elementos ou tiveram influência na formação do Rock. 
Bom, do lado da música negra, podemos citar alguns exemplos começando com essa excelente canção de 1929, When the Levee Breaks com Kansas Joe McCoy e Memphis Minnie, um Blues uptempo bem “avançadinho” para a época, com vários riffs comendo solto no intervalo das estrofes. 


Kansas Joe McCoy and Memphis Minnie - When the Levee Breaks 1929 



Agora quase 10 anos depois, dezembro de 1938, temos essa canção de um dos maiores nomes do Blues, antes mesmo de ser um dos maiores nomes do Rock’n’Roll, Big Joe Turner. Muitos consideram essa canção como sendo um “paleo Rock’n’Roll, um avô do Rock, algo assim, só para dar um nome. Fato é que o Boogie Woogie sempre teve muita influência no Rock’n’Roll, e aqui em Roll’em Pete podemos notar o tamanho da influência. 


Big Joe Turner - Roll 'Em Pete 



Apesar de muita gente na época considerar o Rock como a própria cobra que induziu Eva a morder a maçã, o gospel, principalmente aquele advindo e produzido pela comunidade negra, também teve um papel muito importante na formação do Rock’n’Roll, graças a várias canções recheadas de melodias bem estruturadas e ritmo mais acelerado e até dançante, o que também vai de encontro à influência que o estilo daria ao doo-wop posteriormente. 
Abaixo podemos ouvir I Was Born About Ten Thousand Years Ago, com Golden Gate Quartet. Ah, e vale notar que Eu Nasci Há 10.000 Anos Atrás de Raul Seixas não surgiu assim do nada… 


Golden Gate Quartet - I Was Born About Ten Thousand Years Ago 



Agora falando do lado caipira da coisa, não podemos de deixar de citar o Westen Swing de Bob Wills and the Texas Playboys, juntando elementos do jazz e do country em uma coisa só, com letras que iam mais além, podemos dizer assim. Abaixo podemos ouvir I’m a Ding Dong Daddy, de 1937. 


Bob Wills - I'm A Ding Dong Daddy (From Dumas) 



Eventualmente o próprio Bob Wills gravou um belo Rock, como podemos conferir abaixo, e que soava muito mais com o tal do pré Rock’n’Roll. O vocalista da banda na ocasião era, se não me engano, Tommy Duncan, e o próprio pergunta a Bob se ele gostava de Rock’n’Roll, que responde, “mas é claro, eu faço Rock’n’Roll há muito tempo”. Curiosamente muitos dizem que Bob Wills em algumas oportunidades teria mencionado que ele já, realmente, fazia Rock’n’Roll antes dele ater esse nome. 


Bob Wills & The Texas Playboys - So let's rock 



Para dar fim ao assunto, pelo menos por enquanto, a próxima canção que gostaria de apontar é Hot Rod Race, de 1951, cantada por Red Foley, uma das figuras mais respeitadas da música country de todos os tempos. Percebam essa levada safadinha e essa guitarrinha buzinando para todos os lados, não tem como não dizer que isso aí não é Rock’n’Roll demais, ou quase isso! 


Red Foley - Hot Rod Race (1951) 



10. Os Primórdios 

Enquanto o Blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes cidades por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação e marcado por bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão e instrumentos de sopro. 
Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se a música gospel negra, que embora obedecendo as escalas de Blues, caracterizavam-se por ritmo frenético ou mesmo sensual, canções de redenção e esperança para um povo oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão. 

Culto Gospel 

A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial, mas também favorecendo a influência mútua entre a música negra (Blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e jazz). Da fusão do Blues original com os ritmos mais dançantes dos brancos surgiu o Rhythm and Blues, que levou a música negra ao conhecimento da população consumista. 
No início da década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia, os Estados Unidos despontavam como grande potência mundial. Mais do que em qualquer outro momento da história era incentivado o gozo da vida, marcada que estava a sociedade pelos anos de sofrimento da guerra. A população de maneira geral e inclusive as minorias pela primeira vez tinha dinheiro para gastar com supérfluos como música. Com o anúncio da explosão de bombas atômicas pela União Soviética e um possível "fim do mundo" a qualquer momento, a ordem geral era aproveitar cada momento como se fosse o último. 

Guerra Fria e a Corrida Armamentista 

Em pleno crescimento econômico capitalista o consumo era considerado fator primordial para geração de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto contra o comunismo, e a busca por novos mercados consumidores era incessante. Obviamente a parcela mais jovem da população rapidamente se mostrou mais facilmente influenciável e ao público adolescente pela primeira vez foi dado o direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo, bem como poder de escolha. 

A vida consumista dos jovens nos anos 50 

Estranhamente, porém os jovens brancos em grande parte se negavam a consumir a música normalmente consumida pela maioria branca. Começaram a buscar na música dos guetos algo diferente. Com a indústria fonográfica de grande porte não preparada para suprir o público consumidor com este tipo de música ganharam importância selos pequenos de música negra. 
A aceitação deste tipo de música pelo público de maior poder aquisitivo levou a incipiente indústria fonográfica da época a investir na evolução do estilo e procura e contratação de novos talentos, principalmente na procura de um jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando a ele uma imagem que pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se comuns os relançamentos de versões de músicas dos negros regravadas por artistas brancos, que terminavam por tirar os verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas. 

Jukebox dos anos 50 

Uma outra grande revolução de costumes estava em curso. Sexo deixava de ser tabu e passava a ser considerado diversão (tanto para o homem como para as mulheres). As canções de amor por pressão do público comprador passavam a dar lugar a letras mais sacanas, embora muitas vezes fosse necessário criar versões atenuadas de versos mais diretos. 
A mistura explosiva da empolgante música negra com o consumismo branco adolescente havia sido feita... a explosão era questão de tempo.... 
Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável pela "criação" do Rock and Roll? Obviamente um estilo musical tão complexo não poderia ter sua invenção atribuída incontestavelmente a apenas um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome associado à "criação" do Rock como o conhecemos este alguém não seria Elvis ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader. O "inventor" do termo Rock and Roll e grande responsável pela difusão do estilo foi o disk jokey Allan Freed, radialista de programas de Rhythm and Blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do público jovem consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu o potencial comercial da música negra. 
O termo Rock and Roll era uma gíria dos negros americanos, referente ao ato sexual, presente inclusive em muitas letras de Blues (a exemplo de My Daddy Rocks Me With a Steady Roll da cantora Trixie Smith, de 1922). Allan Freed foi o responsável por usar o nome sonoro para denominar o novo estilo musical em que estava investindo. 

Alan Freed 

Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show mais tarde renomeado para Moon Dog Rock and Roll Party ao mesmo tempo em que promovia festas de dança com o mesmo nome, movidas inicialmente a Blues e Rhythm & Blues e mais tarde pelo ritmo que havia ajudado a definir e divulgar. Suas festas apesar dos constantes atritos e reclamações por parte das autoridades eram um sucesso. Tumultos lhe valeram dezenas de processos por incitação à violência. 
Enquanto a juventude adotava o novo ritmo como sua marca registrada os adultos, principalmente das parcelas mais conservadoras da sociedade, a taxavam como causa de toda delinquência juvenil... apesar do exagero dos protestos, não estavam de todo errados, o gosto pelo Rock era realmente parte do estilo das gangues juvenis. 


11. Os Anos 50 

Musicalmente falando, quem primeiro definiu o estilo Rock and Roll foi Bill Haley, que baseado principalmente no country criou uma batida diferente acentuada no segundo e quarto tempos de uma marcação 4x4. A data mais comumente aceita como a da criação do Rock and Roll é a do lançamento da música (We’re Gonna) Rock Around The Clock de Bill Haley and The Comets, em 12 de abril de 1954, embora dezenas de gravações anteriores já apresentassem um ou outro fator do que viria a se cristalizar como Rock and Roll (o próprio Bill Haley havia gravado no mesmo ano, um pouco antes, a música Shake Rattle and Roll). 


Bill Haley & His Comets – Rock Around The Clock 1954 



O sonho de encontrar um branco capaz de cantar como um negro havia sido realizado por Sam Phillips, de um pequeno selo chamado Sun Records. Em seu início de carreira com o single de Thats All Right e Blue Moon of Kentucky, logo seguido por Good Rockin’ Tonight e I Don’t Care If The Sun Dont Shine, poucos poderiam acreditar que o Elvis Presley que ouviam no rádio era um branco. Obviamente parecia mais saudável à sociedade conservadora e racista aceitar aquele tipo de música vindo de um rapaz com rosto de bom moço. Qualquer boa intenção, porém, era desmentida pela maneira agressiva e sensual de dançar. 


Sam Phillips, Elvis Presley - That's alright RCA 76-B Ampeg 351 



Elvis Presley - That's All Right' (Take 3 Master) 1954 



Elvis Presley - Blue Moon Of Kentucky 1954 



Elvis Presley - Good Rockin Tonight (1954) 



Elvis Presley - I Don't Care if the Sun Don't Shine 



Embora criado um ano antes o Rock and Roll só viria a explodir definitivamente em 1955, em grande parte influenciado pela inclusão de Rock Around The Clock como música de abertura do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência) sobre relações tumultuadas entre alunos e professores (uma analogia a algo muito mais amplo, o relacionamento entre o stablishment e a ânsia por mudanças). Uma juventude a cada dia mais delinquente e em busca de heróis sem relações com heróis do passado rapidamente adotou (para pavor da parcela mais conservadora da sociedade) a rebeldia (mesmo que sem causa) como exemplo a ser seguido, e por tabela a música do filme como catalisador desta rebeldia. Obviamente o novo tipo de música passou rapidamente a ser associado à degeneração da juventude, o que tornava ainda maior seu fascínio, em um ciclo vicioso irresistível. 


The Blackboard Jungle - Opening Credit 



The Blackboard Jungle - Trailer 



The Blackboard Jungle - He's Gonna Kill Him 1955 



E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande escala a juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, sobe às paradas com uma versão para o hit country Ida Red, renomeado para Maybelline (da qual consta o nome de Allan Freed como autor embora este não tenha ajudado na composição). Embora nunca tenha conseguido para si o título que lhe poderia ser devido de Rei do Rock (usurpado pelo branco Elvis) sua importância nunca foi discutida. 


Chuck Berry - Maybelline 



Ainda mais assustadora para os conservadores, porém seria a aparição nas paradas de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afeminado, maquiado e com um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro verso o que viria a ser para sempre o grito de guerra mais conhecido do Rock and Roll, tão indecifrável quanto contagiante... "a wop bop a loo bop a lop bam boom", a música... Tutti Frutti. 


Little Richard - Tutti Frutti (legendado) 



A prova definitiva de que o Rock and Roll seria a mais lucrativa música de consumo dos próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000 dólares pelo passe de Elvis Presley (que chegara a ser aconselhado a voltar a dirigir caminhões menos de dois anos antes) para a gravadora major RCA Victor. 
Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava seu sucesso com novos hits como Heartbreak Hotel, Blue Suede Shoes (que deveria ter sido lançada pelo seu autor, Carl Perkins, não tivesse este sofrido um grave acidente de carro que o deixou paralisado um ano) e regravações de músicas já consagradas como Tutti Frutti (com Little Richard) e Shake Rattle and Roll (com Bill Haley) tornava-se urgente para outras gravadoras achar artistas que pudessem rivalizar Elvis ou ao menos conseguir alguma repercussão usando de seu estilo. 


Bill Haley & The Comets - Shake Rattle & Roll 



A Sun tentando se livrar do estigma que a perseguiria de ser apenas a gravadora que descobriu Elvis e o vendeu por (apenas depois isso seria óbvio) uma ninharia, lançava Roy Orbison com Ooby Dooby. Como pianista já tinha em seus estúdios aquele que viria em pouco tempo a ser seu grande trunfo e tentativa mais eficiente de igualar o sucesso de Elvis, Jerry Lee Lewis. A Capitol Records responderia a Elvis com Gene Vincent and The Blue Caps, marcado pelo estilo do vocalista que balançava em torno de sua perna parada (na verdade paralisada em virtude de um acidente de moto) e pelo hit Be Bop A Lula. 


Roy Orbison and Teen Kings - Ooby Dooby 



Gene Vincent - Be-Bop-A-Lula 



Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James Brown com o quase soul Please Please Me. 


James Brown - Please Please Please At The Tami Show Live 



Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era aproveitado também no cinema no filme The Reno Brothers, logo renomeado para Love Me Tender em virtude do grande sucesso da canção tema. Não tardam a aparecer outros filmes com participações de astros do Rock, como Rock Around The Clock e Don’t Knock The Rock (apresentando Bill Haley e Allan Freed), The Girl Can’t Help It (Little Richard, Gene Vincent, Eddie Cochran), entre outros. Enquanto isso, na Inglaterra, com algum atraso, o filme Blackboard Jungle levava o Rock and Roll ao reino unido. 


Elvis Presley - Love Me Tender 1956 (Filme Completo) 


 
The Girl Can't Help It - Little Richard (1956) 



The Girl Can’t Help It - Gene Vincent & His Blue Caps (1956) 



Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o fim do Rock and Roll foi anunciado pela primeira vez. Afinal o que haveria neste ritmo que o poderia fazer mais durável do que tantos outros como o cha-cha-cha, a rumba, o calipso, o mambo? 
Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se espera. Se juntando à banda Crickets o até então inexpressivo Buddy Holly, de Nashville, prova com os hits açucarados That Will Be The Day e Peggy Sue que o Rock poderia ser domado e usado associado a um bom moço e letras românticas sem segundas intenções. 


Buddy Holly & The Crickets - That'll Be The Day On The Ed Sullivan Show 



Buddy Holly & The Crickets - Peggy Sue Live 



As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos no radio não se concretizariam, obviamente. Seja por lançamentos como School Days de Chuck Berry (uma ode ao fim das aulas) ou pela explosão tardia de Jerry Lee Lewis com Crazy Arms e Whole Lotta Shakin’ Going On. 


Chuck Berry - School Days 



Jerry Lee Lewis - Crazy Arms Live Session 



Jerry Lee Lewis - Whole Lotta Shakin' Goin' On (Steve Allen Show - 1957) 



Com o ingresso de Elvis nas forças armadas (a despeito de este ter deixado gravado material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, King Creole) Jerry Lee Lewis era o candidato natural para seu posto, rebelde, carismático... e branco. Seu apelo ao público era proporcional ao seu ego e Great Balls Of Fire rapidamente se tornou o sucesso do ano de 1958. Sua carreira viria a derrocar de maneira tão meteórica quanto surgira em virtude de vir a público seu casamento com a prima de 13 anos, Myra Gale Brown, e de ele nem ao menos ter tido o cuidado de desmanchar um de seus casamentos anteriores, sendo, portanto, um bígamo, o que era demais para a sociedade da época. 


King Creole Movie - Elvis Presley - Trouble 



King Creole Movie - Elvis Presley - Dixieland Rock 



Jerry Lee Lewis e Myra Gale Brown 


Jerry Lee Lewis - Great Balls Of Fire (Saturday Night Beechbut Show 14.02.58) 



O ano de 1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do Rock de todos os tempos, Sweet Little Sixteen (sim, sobre garotas adolescentes) e Johnny B. Goode (quase autobiográfica). O Rock bonzinho e romântico por sua vez reage com All I Have To Do dos Everly Brothers. James Brow lança seu primeiro grande hit, Try Me. 


Chuck Berry - Sweet Little Sixteen 



Chuck Berry - Johnny B. Goode Live 1958 



Everly Brothers - All I Have To Do Is Dream Live 



James Brown - Try Me At The Boston Garden Live 



O ano negro de 1959 começou marcado pelo acidente de avião que em janeiro, em Clear Lake, Iowa, matou Buddy Holly, Big Booper e o recém descoberto chicano Ritchie Valens (do sucesso La Bamba). Após uma apresentação conjunta durante uma malsucedida turnê de inverno chamada Winter Dance Party, o avião que transportava o grupo de uma cidade para outra, em meio a uma tempestade de neve e com um piloto inexperiente, caiu pouco após a decolagem, não deixando sobreviventes. 


Restos do avião do acidente em Clear Lake 

A década termina com Chuck Berry sendo preso por cruzar uma fronteira estadual com uma prostituta (que teoricamente havia sido contratada para trabalhar em um clube de sua propriedade em Saint Louis). Seu grande crime obviamente era ser negro em uma sociedade racista e ter alcançado tanto sucesso. Berry foi julgado e condenado a dois anos de cadeia. 
Os fatos citados acima eram emblemáticos e fáceis de notar, mas os problemas do Rock não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da superexposição e mesmo grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis estavam tomando o caminho mais lucrativo do country. Elvis Presley, de volta de seu serviço nas forças armadas, passaria de Rockeiro rebelde a entertainer familiar, gravando praticamente apenas baladas. A juventude finalmente notara que Bill Haley e Allan Freed afinal já não tinham idade para serem ídolos jovens. Talvez o Rock finalmente tivesse morrido. Ou talvez apenas precisasse de algumas mudanças. 





Até o próximo encontro!