domingo, 21 de junho de 2020

ROCK - Suas Histórias & Suas Magias - Capítulo 3 Parte D

Capítulo 3
Entendendo a Música Blues – Parte D


5. As Regiões do Blues

Várias são as regiões no Estado Americano onde histórias e mais histórias do Blues podem ser contadas.
Abaixo faremos algumas considerações.

a) Baton Rouge

Blue Festival In Baton Rouge

Se você quer realmente saber de fato onde o Blues de Louisiana realmente nasceu, se dirija a região de Baton Rouge.

Blues From The Bayou

Esta região foi a terra natal de músicos como Slim Harpo, Lightnin' Slim e muitos outros. Isto sem falar no fato de que muitos artistas gravaram discos na região de Crowley, em Louisiana.


b) Califórnia

House Of Blues – Los Angeles

Tanto a região de Los Angeles e são Francisco tiveram na década de 40 um cenário extremamente forte não só no Blues como também no R&B.

House Of Blues – Sunset Boulevard

Vale a pena destacar os notáveis artistas da região, como Etta James, Lowell Fulson, Pee Wee Crayton e James Harman.

Etta James

c) Chicago


Chicago é geralmente considerada como a terra do Blues contemporâneo, cidade esta onde o famosíssimo Chess Studio se estabeleceu.

Chicago

É também onde willie Dixon, Muddy Watters, Little Walter e Howlin' Wolf gravaram os seus melhores álbuns fazendo a história do Blues nas décadas de 50 e 60.


Duas fotos do Chess Studios

d) Kansas City
Nas décadas de 30 e 40 Kansas City era a grande região do Blues Americano.



Big Joe Turner

Lá ocorreu o nascimento do Boogie Woogie Piano (Big Joe Turner) e o Jazz (Count Basie, Lester Young e Charlie Parker).

e) Memphis
Cidade da famosa "Beale Street", onde W.C. Handy e muitos outros tocaram no início de século.


Beale Street Memphis

É também onde a Sun Records, de Sam Philips, se instalou e, na década de 50 produziu pérolas do Blues, como B.B.King e Howlin Wolf e do Rock'n Roll, isto é: Elvis Presley, Johnny Cash e Roy Orbison.

Sun Records Memphis


f) Delta do Mississipi
Região por onde a grande maioria dos negros chegavam aos Estados Unidos, para se tornar escravos.

Clarksdale Passenger Depot


O Delta é considerado a região onde o Blues nasceu. Músicos que nasceram e trabalharam na região: Robert Johnson, Son House e Charlie Patton.


g) New Orleans


"The Crescent City!" Esta cidade tem uma longa e rica tradição musical, onde podemos citar o Blues (Guitar Slim), o Jazz (nada menos do que Louis Armostrong) e também o Rhitm's Blues (Irma Thomas, Professor Longhair).

h) Região Piedmont


Esta é uma região que se estende da Georgia até o Estado da Carolina é para o mundo do Blues ela tem um significado extremamente importante pois produziu fantásticos Blues acústicos durante as décadas de 20 e 30, principalmente sob as vozes de Blind Boy Fuller, Brownie McGhee, Ma Rainey e Blind Willie Mc Tell.


i) Saint Louis

Blues Museum

A cidade é na realidade mais conhecida na história do Blues pela música que imortalizou: St Louis Blues, de W.C. Handy. Muitos músicos viveram nesta região na década de 50, como o roqueiro Chuck Berry, Albert King, e Little Milton.

W.C. Handy

j) Texas
Dallas, Houston e Austin formam neste estado o triângulo do Blues.
Famosos artistas nasceram e tocaram nesta região, entre eles o grande Stevie Ray Vaughan.

Clarence Gatemouth Brown

T-Bone Walker

Outros que merecem ser citados: Clarence "Gatemouth" Brown, Janis Joplin, T-Bone Walker e Johnny Winter.


6. Os Bluesmen

a) Big Bill Broonzy (1893-1958)
Um dos primeiros artistas do blues clássico, foi o bluesman de maior sucesso nos anos 30.


Big Bill Broonzy – Songs 1957



b) Sonny Boy Williamson (1899-1965)
Adotou o nome com a morte do primeiro Sonny Boy, e só emplacou por conta de seu talento na harmônica.


Sonny Boy Williamson - Bye Bye Bird 1963



c) Willie Dixon (1915-1992) 
Compositor cantor, baixista e guitarrista, foi talvez a figura mais importante na chamada era clássica do blues urbano de Chicago.


Willie Dixon - Back Door Man Live



d) Otis Spann (1930-1970)
Pianista que, juntamente com Waters e LittleWalter, foi um dos criadores do blues de Chicago do pós-guerra.


Otis Spann – Spann’s Blues 1962



e) Muddy Waters (1915-1983) 
O maior artista do gênero entre a era clássica de Robert Johnson e a de B.B. King. Mestre da Slide Guitar, manteve a crueza do blues rural mesmo quando adotou a guitarra elétrica.


Muddy Waters - Rolling Stone (Catfish Blues) Live



f) Memphis Slim (1915-1988)
Pianista que migrou do estilo R&B para o folk-blues, com muito sucesso.


Memphis Slim - I'm lost without you



g) Lowell Fulson (1921-1999)
Figura de ligação entre o blues clássico e o R&B, guitarrista que alia tradição a novos estilos.


Lowell Fulson - You're Gonna Miss Me When I'm Gone



h) John Lee Hooker (1917-2001)
Um dos grandes intérpretes da onda revivalista dos anos 60, este guitarrista faz um blues bem tradicional com sua interpretação econômica e irônica.


John Lee Hooker - Boom Boom Live 1960's Television Appearance



i) Howlin' Wolf (1910-1976) 
O principal rival de Waters nos anos 50, seu jeito de gritar os blues fez escola e tornava suas performances inesquecíveis.


Howlin Wolf - American Folk Blues Festival Live 1964



j) Buddy Guy (1936) 
Showman da guitarra revitalizou o gênero nos anos 60.


Buddy Guy - Damn Right, I've Got the Blues on Guitar Center Sessions



k) Bo Diddley (1928-2008)
Precursor da batida do rock, esse guitarrista faz um rhythm'n'blues cheio de suingue e animação.


Bo Diddley - Ed Sullivan Show 1955



l) Bessie Smith (1894-1937) 
A maior de todas as cantoras de blues, chamada a "Imperatriz do Blues", por suas interpretações sinceras e cheias de emoção.


Bessie Smith - ST Louis Blues (Live Queens NY 1929)



7. A Slide Guitar

Slide Guitar, ou Bottleneck Guitar, é uma forma de tocar guitarra, em que se utiliza no dedo médio, anular, mínimo ou indicador (este último menos comum), um pequeno tubo oco cilíndrico, feito de metal, vidro ou cerâmica. Com o objetivo de alterar o tom em que se toca, deslizando esse tubo pelas cordas da guitarra.
Não há uma certeza absoluta de onde se tenha originado a técnica do slide, alguns autores dizem que ele foi criado pelo povo nativo do Havaí sendo posteriormente levado para a América, outros dizem ter sido desenvolvido pelos afro-americanos que trabalhavam nas plantações de algodão do sul dos EUA e tocavam uma espécie de Blues primitivo, por vezes chamado de Country Blues ou Folk Blues.


Justin Johnson – Whiskey Barrel Guitar Solo Slide Guitar



Afim de tirar novos timbres de seus instrumentos os escravos deslizavam objetos cilíndricos em suas cordas gerando uma mudança de tom.
O primeiro registro de um 'slide' foi feito pelo musico Sylvester Weaver nas canções "Blues Guitar" e "Rag Guitar" em 1923. Posteriormente a técnica foi aderida por vários bluesman's da época, como Blind Willie McTell, Son House e o lendário Robert Johnson.


Sylvester Weaver - Guitar Blues 1923



Sylvester Weaver & Walter Beasley - Bottleneck Blues 1927



Tedeschi Trucks Band - Midnight In Harlem (Guitar Solo)



Robert Johnson foi, inclusive, quem ensinou a Elmore James, reconhecido como sendo o “Rei do Slide” a aprender a técnica. Elmore teve vários singles lançados entre 1951 e 1963 (ano de sua morte) que comprovam isso.


Elmore James Jr : Broomdustin Live



Devido a esse reconhecimento nos Estados Unidos a técnica acabou sendo incorporada pelos músicos de Country Rock.
Outro bluesman influente que usada essa técnica era Muddy Waters, ele foi o criador do gênero conhecido como Chicago Blues e foi ele o maior responsável para a utilização dessa técnica na Inglaterra e em outras partes do mundo.


George Thorogood & The Destroyers - Madison Blues Live Aid 1985



Outros músicos passaram a se utilizar frequentemente dessa técnica e acabaram espalhando ela por todos os cantos, como Johnny Winter, Rory Gallagher, Eric Clapton, Ron Wood, Doug Gilmour, Lowell George, Ry Cooder, Brian Jones, Jeff Beck, Matthias Jabs, John Butler, Brian May, George Thorogood, Joe Walsh, Chuck Berry, Bo Diddley, Angus Young, Jimmy Page, Slash, Billy Gibbons, Joe Perry, Gary Rossington entre muitos outros.
Não se pode esquecer aquele que é considerado o mais inovador e quem popularizou a guitarra slide, Duane Allman dos Allman Brothers Band, que costumava usar vidros de remédio no dedo 3 (anular) para a prática. Dickey Betts o outro guitarrista do Allman Brothers também é um exímio guitarrista de slide. No final dos anos 80, Warren Haynes formou dupla com Dick Betts no Allman Brothers e depois Derek Trucks ocupou o lugar do Dickey. Mark Sandman, vocalista e baixista do Morphine, que inovou usando slide em seu contrabaixo. Outros guitarristas surgiram, e entre eles, alguns que trouxeram novas técnicas e colocaram a slide guitar em outro patamar. O principal deles é Sonny Landreth, com uma técnica totalmente inovadora e também Derek Trucks com seu estilo bastante pessoal.


Joe Walsh (The Eagles) - Rocky Mountain Way 1977 Live



Jeremy Spencer (Fleetwood Mac) - Dust My Broom Live



Johny Winter – Tribute to Muddy



Mick Taylor (Little Feat) -  Apolitical Blues Live in London



Alan Wilson (Canned Heat) - London Blues Live in Montreux 1070



Gary Rossington (Lynyrd Skynyrd) – Free Bird Live 2003



Ry Cooder - At The Dark End Of The Street Live 1977



Eric Clapton And Duane Allman - Layla




8. Filmes sobre Blues


a) Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, EUA, 1980)
Direção: John Landis
Elenco: John Belushi, Dan Aykroyd


Blues Brothers the Official Trailer 1980



É o filme mais óbvio de qualquer lista que reúna filmes e blues, então já vamos resolver isso. Acho difícil que ninguém aqui conheça a banda de rhythm and blues (que existiu de verdade, criada por Dan Aykroyd e John Belushi para um sketch do Saturday Night Live, e que um dia ganhará um post especial aqui), mas o filme permanece uma indicação excelente para quem deseja dar os primeiros passos no blues — foi assim comigo e aposto que com muita gente da minha geração.
Os Irmãos Cara-de-Pau tem quatro participações famosas: Ray Charles, James Brown, Aretha Franklin e Cab Calloway interpretam músicas que estão na trilha sonora. Mas existem outras músicas — ou, ao menos, trechos delas — indispensáveis ao longo do filme, como Shake Your Moneymaker (de Elmore James) e uma versão sensacional de Boom Boom, com John Lee Hooker e astros do calibre de Big Walter Horton e Pinetop Perkins (a versão normal do filme tem apenas o começo da canção; procure pela estendida com 148 minutos, que contém a música na íntegra— ou assista à cena aqui).

b) Coração Satânico (Angel Heart, 1987, EUA)
Direção: Alan Parker
Elenco: Mickey Rourke, Robert DeNiro


Coração Satânico the Official Trailer 1986



Se eu descobri o blues com Os Irmãos Cara-de-Pau, eu me apaixonei de verdade por ele — mesmo ainda sem entender nada sobre blues — no final dos anos 80, ao assistir Coração Satânico. Além de ser um dos meus filmes de terror preferidos, boa parte dele se passa em Nova Orleans, em cenas evidentemente repletas de blues e jazz.
Uma delas me chamou a atenção logo que assisti: trata-se do show de um velho blueseiro — que tem um papel importante na trama — em um pequeno bar, cantando a música Rainy, Rainy Day. Somente anos depois eu descobriria que se tratava de Brownie McGhee, um grande nome do blues, cuja carreira se iniciou nos anos 30 — com o passar dos anos, sua parceria com o gaitista Sonny Terry se tornaria lendária. No início dos anos 90, comprei o CD da trilha e provavelmente foi a primeira vez que ouvi Bessie Smith (Honeyman Blues). Assista até o final dos créditos, que é onde um elemento importante da trama se explica.


c) Encruzilhada(Crossroads, EUA, 1987)
Direção: Walter Hill
Elenco: Ralph Macchio, Joe Seneca


Encruzilhada Official Trailer 1986



Outro filme obrigatório em qualquer lista de blues. Fez muito sucesso nos anos, tornando-se um dos maiores sucessos de Ralph Macchio além da série Karate Kid. Mais que uma reverência ao blues do Mississipi, o blues homenageia mesmo sua figura mais emblemática: Robert Johnson — que abordei neste texto aqui.
Encruzilhada narra a jornada de um garoto que, ao lado de um velho blueseiro, parte em busca da canção perdida de Robert Johnson — segundo o roteiro, Johnson, que gravou vinte e nove músicas, teria vendido a alma em troca de trinta canções. Assim, eles mergulham no Mississipi numa jornada musical — temperada pela guitarra de Ry Cooder nas canções incidentais — o que culmina num duelo musical que conta com a participação de um ainda jovem Steve Vai. É um dos filmes mais conhecidos a abordar o blues, e é, certamente, um dos mais respeitosos. Indispensável.


d) Cadillac Records (Cadillac Records, EUA, 2008)
Direção: Darnell Martin
Elenco: Adrien Brody, Jeffrey Wright


Cadillac Records' Official Trailer 2008



Lançado em 2008, o filme era uma das grandes apostas da Sony para o Oscar daquele ano, mas fracassou completamente. Assim, ele acabou se tornando mais um projeto pessoal da cantora Beyoncé, que não apenas atua como é produtora executiva. Mas é uma produção caprichada que mergulha na história da Chess, a gravadora mais importante da história do blues.
Sim, muita coisa é romanceada, modificada ou simplesmente ignorada (como os outros irmãos Chess). Mas ainda assim é um bom programa e ideal para conhecer alguns dos principais astros da empresa: Muddy Waters, Willie Dixon, Howlin’ Wolf, Etta James, Little Walter e Chuck Berry - todos eles pilares do blues moderno. A trilha sonora, como era de esperar, é um show à parte  e, mais importante, são interpretadas pelos próprios atores, com bastante qualidade,


e) E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (Oh Brother, Where Art Thou? EUA, 2000)
Direção: Joel Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro


E aí meu irmão, cadê você? Official  Trailer 2000



Um dos filmes mais deliciosos dos irmãos Coen, essa comédia se passa no Sul dos Estados Unidos durante os anos 30 (o filme tem um filtro de cores que remete à época) e acompanha três presidiários que escapam da cadeia e partem em busca de uma fortuna escondida.
Além de ser um filme excepcional que é quase uma sátira moderna do poema Odisséia (o primeiro nome do personagem central é Ulisses, o que evidencia isso ainda mais), o filme é uma viagem deliciosa pela música folk dos anos 30. Isso porque as músicas não estão apenas na trilha sonora: elas são partes importantes da trama, muitas vezes servindo como elemento narrativo. Assim, você tem blues, bluegrass, gospel e country…. E a canção Man of Constant Sorrow, dos Soggy Bottom Boys (leia-se: George Clooney, John Turturro e Tim Blake Nelson), que é uma delícia.


f) Estrada para Memphis
Direção: Martin Scorsese


Martin Scorsese presents The Blues (trailer)



Em Estrada para Memphis, de Richard Pearce, o Blues ganha a cidade de Memphis, personagem principal do filme, onde o gênero começou a tornar-se um estilo popular entre os negros vindos das fazendas nas décadas de 40 e 50. Faz, ainda, um paralelo entre a história de Memphis e as carreiras de B. B. King, talvez maior astro do Blues, e Bobby Rush, desconhecido até do público que acompanha o estilo, demonstrando que as dificuldades para os músicos de blues continuam. Trazendo a herança da escravidão, eles continuam escravos da música, mostrando uma longevidade impressionante, como o pianista Pinetop Perkins, ainda em atividade aos 94 anos.


g) Padrinhos e Filhos
Direção: Marc Levin


Blues - Padrinhos e Afilhados (Promo)



Em Padrinhos e Filhos, de Marc Levin, vemos o mesmo ocorrendo em Chicago, onde dois imigrantes poloneses criam a gravadora Chess e revolucionam a indústria fonográfica americana. De um disco de Muddy Water, Electric Mud, revolucionário para a época, artistas de rap e hiphop, convidados por Sam Philips, filho do fundador da Chess e que entre outras coisas “descobriu” Elvis Presley, se juntam aos antigos blueseiros para mostrar que foi lá atrás que tudo nasceu.


Até o próximo encontro!



Um comentário:

  1. Ahhh Walter!
    Saudações! Dá gosto de ler!
    Tem um errinho ortográfico aqui... Eu leio cara! O que você escreve se lê!!! É também onde willie Dixon, Muddy Watters, Little Walter e Howlin' Wolf gravaram os seus melhores ***albun***, fazendo a história do Blues nas décadas de 50 e 60.

    Um grande abraço Walter!

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