domingo, 15 de junho de 2014

Pelas Galáxias do Rock - 4. Terreno Baldio


PELAS GALÁXIAS DO ROCK Com Fabiano Oliveira
Terreno Baldio – Terreno Baldio
Pirata ( Independente ) - 1976


Todos aqueles que apreciam o Rock Progressivo sabem que uma de suas premissas é o virtuosismo. Invariavelmente, todos os grupos que seguiram esse estilo, apresentaram e/ou apresentam exímios músicos, de raro talento e com técnicas impressionantes e muitas vezes inimagináveis. Ouvindo esse primeiro disco do grande Terreno Baldio, a impressão que fica é que o grupo ia além desse contexto, já que encontramos tudo isso em sua música, mas sempre “acompanhado de alma” e uma forma bem própria de produzir e apresentar essa sonoridade.
Com todos esses atributos (e com alguns anos de experiência), em meados da década de 70, o Terreno Baldio entrou no estúdio para a gravação, edição e lançamento do seu disco de estréia. Logo de cara, o primeiro acerto: a escolha de Arnaldo Saccomani, Aurino Araújo, Guido Biancardi, Alan Kraus e Walmir Pinheiro para a produção e coordenação artística. Todos excelentes profissionais, com destaque para o Saccomani, que entre muitos trabalhos essenciais na música brasileira, foi um dos grandes responsáveis pela obra psicodélica do Ronnie Von. Acredito que essa experiência com Ronnie e também com Os Mutantes, vale lembrar, trouxe algo a mais para o som do Terreno Baldio, uma possível e muito bem sucedida fusão do progressivo com a psicodelia/tropicalismo. Êxito total!
Claro, mesmo tendo outras influências, o que encontramos aqui é realmente a base do Rock progressivo, muito peso, “piração” e músicas deliciosamente longas, com seus solos altamente inspirados. E nem poderia ser diferente, afinal, o grupo estava criando O CLÁSSICO desse gênero.
Uma viagem desse naipe só poderia ser considerada perfeita se a canção escolhida para a abertura fosse realmente “Pássaro Azul”. Que coisa linda, repleta de harmonia e de muito bom gosto! Dedilhado de guitarra irresistível no começo, vozes sincronizadas, solo de guitarra arrebatador, bateria pesada e ao mesmo tempo suave, enfim, auge da boa arte!!
“Loucuras de Amor” é igualmente bela e ainda apresenta uma letra fantástica, que é impossível passar despercebida. Já a música “Despertar”, trouxe mais um elemento crucial da nossa música, a influência do Funk/Soul. Pois é, o Terreno Baldio mostrou aqui que a fusão do progressivo com o funk era perfeitamente possível. Algo muito próximo do que fez o Som Nosso de Cada Dia no recomendadíssimo Sábado/ Domingo (de 1977).
Fechando o Lado A, “Água Que Corre”, uma “porrada”, direta e rasteira.
Abrindo o Lado B, outra surpresa, “A Volta” e “Quando As Coisas Ganham Vida”, nítida constatação de outras belas fusões, no caso o baião e a música regional com o progressivo. Impossível, inacreditável? Ouça para tirar suas próprias conclusões!
O Terreno Baldio sempre carregou a alcunha de ser o “Gentle Giant Brasileiro” e na ótima canção “Este é O Lugar”, essa comparação faz certo sentido. Claro, a comparação é válida, mas há muita brasilidade e características próprias nesse som e isso precisa ser sempre observado.
Para fechar o álbum, a canção que mais representa o espírito da banda: “Grite”. Além de ser talvez a música mais conhecida do Terreno Baldio, “Grite” é a típica obra que faz o roqueiro feliz, com a indução à liberdade, a citação da rebeldia e porque não dizer pela busca da felicidade. Ao término da música, todos esses sentimentos ficam ainda mais evidente e nos mostra que tudo valeu à pena. Clássico irretocável!
Antes que eu me esqueça, a formação da banda na época era Fusa (nos vocais e percussão), Mozart de Mello (na guitarra), João Ascenção (no baixo), Lazzarini (no órgão/piano) e Jô (na bateria). Um time mais do que qualificado e eterno!
Como informação adicional, o disco saiu com a prensagem de 3.000 cópias na época, pouquíssimo e até por isso, é tido como objeto de desejo pelos fãs e colecionadores. Houve, porém, uma ótima edição em CD que foi remasterizada na Itália e disponibilizada pela Rock Symphony (quase duas décadas depois), contendo o encarte com fotos inéditas e biografia da banda. Vale à pena conferir.
Não há como deixar de reconhecer a importância do disco Terreno Baldio para o Rock progressivo brasileiro. Ao lado do Criaturas da Noite (do Terço), Snegs (do Som Nosso de Cada Dia), Tudo Foi Feito Pelo Sol (dos Mutantes), Lar de Maravilhas (do Casa das Máquinas), Som Imaginário- Cenouras (Som Imaginário) e do Pholhas – 1977 (Pholhas), representa uma fase áurea da nossa música, com uma proposta musical riquíssima e com forte apelo ao virtuosismo e a diversas experimentações musicais. 
Com o perdão do trocadilho, nesse Terreno Baldio houve uma enorme construção de um sonho, cheia de perspectivas, ótima música e principalmente veracidade.
Capítulo obrigatório do Rock Nacional!!

Por Fabiano Oliveira

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