domingo, 29 de novembro de 2020

ROCK - Suas Histórias & Suas Magias Capítulo 10 Parte 2

A Sociedade na Década de 60


20. Anos 60 - A Época que Mudou o Mundo - Claudia Garcia 


Os anos 50 chegaram ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado "baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira, em um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos EUA. A nova década que começava já prometia grandes mudanças no comportamento, iniciada com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo. 
A imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando. As moças bem-comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade. 


Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de liberdade "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957] da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década. 

Nesse cenário, a transformação da moda iria ser radical. Era o fim da moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada vez mais ligada ao comportamento. 


Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas criaram produtos específicos para os jovens, que, pela primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos. Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época. 
Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizes Jean Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma nova atitude. 

A modelo Twiggy 

Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a criação de japonas e sahariennes (estilo safári), foram atualizações das tendências que já eram usadas nas ruas de Londres ou Paris. 

Jean Seberg 

O sucesso de Quant abriu caminho para outros jovens estilistas, como Ossie Clark, Jean Muir e Zandra Rhodes. Na América, Bill Blass, Anne Klein e Oscar de la Renta, entre outros, tinham seu próprio estilo, variando do psicodélico [que se inspirava em elementos da art nouveau, do oriente, do Egito antigo ou até mesmo nas viagens que as drogas proporcionavam] ou geométrico e o romântico. 
Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como matéria-prima. 

Mini Saia dos Anos 60 

Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas fibras, com a popularização das sintéticas no mercado, embora as fibras naturias continuassem sendo muito usadas também. 
As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock. 
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking (lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966). 


A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através das franquias. 
Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista. 

O Smoking Unissex de Yves Saint Laurent 

Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde foram para a famosa King's Road e o bairro de Chelsea, sempre com muita música e atitude jovens. 
Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. 

Jean Shrimpton 

Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos rebeldes ou coque no alto da cabeça (muito imitado pelas mulheres). 
Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador. 
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada. 
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon. 
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com o início do fenômeno hippie do final dos anos 60. 

A Swinging London Biba 

A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, no início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. Também em Londres, surgiram os mods, de paletó cintado, gravatas largas e botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao. 
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa (como os Beatles). A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno". 
Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde que viaja em velocidade superior à do som, são exemplos de uma era de grande desenvolvimento tecnológico que transmitia uma imagem de modernidade. Essa imagem influenciou não só a moda, mas também o design e a arte que passaria a ter um aspecto mais popular e fugaz. 
Nesse contexto, nenhum movimento artístico causou maior impacto do que a Arte Pop. Artistas como Andy Warhol, Roy Lichetenstein e Robert Indiana usaram irreverência e ironia em seus trabalhos. 

Andy Warhol 

Warhol usava imagens repetidas de símbolos populares da cultura norte-americana em seus quadros, como as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe. A Op Art (abreviatura de optical art, corrente de arte abstrata que explora fenômenos ópticos) também fez parte dessa época e estava presente em estampas de tecidos. 
No ritmo de todas as mudanças dos anos 60, o cinema europeu ganhava força com a nouvelle vague do cinema francês ("Acossado", de Jean-Luc Godard, se tornaria um clássico do movimento), ao lado do neo-realismo do cinema italiano, que influenciaram o surgimento, no início da década, do cinema novo (que teve Glauber Rocha como um dos seus iniciadores) no Brasil, ao contestar as caras produções da época e destacar a importância do autor, ao contrário dos estúdios de Hollywood. 


Andy Warhol & Edie Sedgwick Interview (Merv Griffin Show 1965)



Andy Warhol: A collection of 100 works 



Andy Warhol Working At His New York Studio In 1980 



No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor (flower power), do negro (black power), do gay (gay power) e da liberação da mulher (women's lib). Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo. 
A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas. 

Os rótulos das Sopas Campbell’s foram 
criados por Andy Warhol 

No Brasil, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma viagem psicodélica. 
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda, tudo kitsch, retrô e pop. 
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética. 
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação. 
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas 

O poderosíssimo Saturno V alçando voo na missão da Apolo XI 

O homem pisando na Lua pela primeira vez na história 


21. O Movimento pelos Direitos Civis 

Se não há luta, não há progresso (...) Esta luta pode ser moral ou física: ou pode ser ambas, moral e física: mas tem que ser uma luta. O poder nada concede sem uma demanda. Ele nunca o fez nem o fará. Pode-se não receber por tudo aquilo que se pagou nesse mundo: mas , certamente, pagou-se por tudo aquilo que se recebeu. 
Frederick Douglas, 1882 


Reflections on the Greensboro Lunch Counter 



Civil Rights Movement: The Sit- In'!! 



Rosa Parks 



Cem anos depois da 14ª Emenda ter sido aprovada dando cidadania aos negros, em Montgomery, Alabama, uma costureira negra chamada Rosa Parks, tomada de um impulso, negou-se, num ônibus, a sair do lugar assinalado aos brancos. 


A Tour of the Rosa Parks Museum 



A polícia a levou presa acusada de “desordem” por infringir as leis segregacionistas locais. Era o dia 1º de dezembro de 1955. Imediatamente ativistas dos direitos civis trataram de organizar um boicote contra os serviços de transporte urbano da cidade. Escolherem o reverendo Martin Luther King Jr. para liderá-los. 

Foto de Rosa Parks quando foi presa, ela morreu em 2005 aos 92 anos. 
Ela mudou a história em 1° de dezembro de 1955, quando se recusou a 
deixar seu assento em um ônibus urbano para um passageiro branco. 
Sua prisão por isso provocou um boicote de 381 dias do 
sistema de ônibus de Montgomery. 
Foto: Justin Sullivan / Getty Images 

O Dr. King era então um jovem pastor de 25 anos, filho de uma tradicional família de religiosos, graduado no Seminário Teológico Crozer, Filadélfia, e com Ph.D. na Universidade de Boston. Desde cedo ficou atraída pelo movimento da não violência de Gandhi na Índia. Mesmo que lhe dinamitassem a sua casa o Dr. King não deixou de comandar o boicote até que treze meses depois, um tribunal federal revogou a lei segregacionista. Com o sucesso do bus boycott, ele tornou-se uma personalidade nacional. Virou uma celebridade. 

Ônibus onde Rosa Parks se recusou a ceder o assento 

Como observou Lerone Bennett, Jr., King “transferiu a luta dos tribunais para as ruas, das bibliotecas de direito para os púlpitos das igrejas, da mente para a alma”. Sim, porque até então a luta antissegregacionista era travada nas cortes de justiça onde os advogados militantes da NAAC (National Association for the advencement of colored people, fundada em 1909) procuravam constranger os juizes, demonstrando a contradição entre as leis isonômicas da democracia americana e a realidade da discriminação racial. 
Capitalizando as energias despertadas pelo fim da segregação, ainda que em uma só das cidades, ele fundou a SCLC (The Southern Christian Leadership Conference) que passou a ser a base de suas operações em todo o Sul. Tornou-se um peregrino da causa dos direitos civis, um Freedom fighting, um combatente da liberdade, realizando a difícil tarefa de transformar os princípios sócio-teológicos do cristianismo - inspirado por sua leitura do livro de Walter Raschenbush “The Social Principles of Jesus” - em realidade. Procurou atrair para ela, para a sua grande causa, graças a sua extraordinária capacidade de “dramatizar a verdade”, outros lideres religiosos a fim de evitar que o movimento, em algum momento, resvalasse para a violência. Depois de uma viagem à Índia, em 1959, onde foi recebido por Nehru, retornou ainda mais convencido de que a não violência era o melhor caminho que os oprimidos tinham a trilhar na sua luta pela liberdade. 

Rosa Parks escoltada por um Oficial Federal 

Uma nova e vigorosa liderança negra nascia para romper definitivamente com o Compromisso de Atlanta. De nada serviu a abdicação da luta pela igualdade social nem seguir apenas a “educação industriosa” recomendada por Booker T. Washington. Nos anos 60, eles compunham 10,5% da população, quase 22 milhões de negros, mas o número de pobres e marginalizados entre eles era superior a qualquer outra comunidade étnica americana. 
A maioria das boas universidades continuava fechada a eles, pois não tinham dinheiro nem os pré-requisitos para frequentá-las. Suas escolas eram pobres com professores desestimulados pelos baixos salários. Ao tentarem, no Sul, ingressar nos colégios de 2º grau, foi preciso mobilizar-se tropas federais, como ocorreu em Little Rock, no Arkansas, em 1957. O mesmo repetindo-se com James Meredith ao pleitear estudar na Universidade do Mississippi (*). 
(*) neste incidente foram convocadas, por ordem do governo de Eisenhower, as tropas da Divisão 101º aerotransportada para assegurar o direito de 9 adolescentes negros de terem acesso à escola pública de 2º grau. Kennedy igualmente recorreu as forças federais para apoiar James Meredith. 


Rosa Parks interview (1995) 



As cidades amontoavam-se em guetos, como o célebre Harlem de Nova York, cercados pela violência, as drogas o álcool e o banditismo. Nos campos do Sul, onde muitos ainda estavam, moravam em choupanas drab and miserable, tristes e miseráveis, ocupando terras improdutivas, sem crédito e sem assistência técnica. Condenavam-se a ter empregos inferiores, rejeitados pelos brancos, mal-remunerados e desprotegidos, o que os levava a reproduzir uma vida medíocre e desesperançada. Isto tudo era mais doloroso porque viviam no país mais rico e próspero do mundo. Apesar dos notáveis avanços de muitos deles, a maioria estava ali, à margem, vagando como almas penadas, limitando-se, como disse Lerome Bennett Jr., to sing, to pray, to cry, “a cantar, a rezar e a chorar”! 


Rosa Parks and the Montgomery Bus Boycott: 60 Years Later - Fast Facts | History 



Foram poucos os espaços que a sociedade branca lhe reservara, mas nos que sobraram eles brilharam. A partir da grande migração negra para o Norte, fugindo dos linchamentos e da homicida segregação dos racistas do Sul, a música negra começou a ganhar o coração dos americanos. Primeiro foi o ragtime, em seguida foi o jazz e suas inúmeras variações. Kansas City, Chicago e depois Nova York, tornaram-se os grandes centros de difusão da música negra americana que, a partir dos anos vinte, iniciou a conquista do mundo. Os negros confiavam que seus grandes artistas, extremamente dotados de sensibilidade, pudessem enternecer a dura alma do branco. A cantora de blues Billie Holiday, morta em 1959, talvez tenha sido a principal porta-voz, ainda que inconsciente, desta esperança. 


22. Análise sobre o Movimento dos Direitos Civis 

O Movimento dos Direitos Civis é historicamente um período de tempo compreendido entre 1952 e 1983, ocorrido de maneiras diversas e marcado por pacificações populares e convulsões na sociedade civil em países de todos os continentes, mas principalmente nos países norte-americanos. 
O processo de conseguir a completa igualdade perante a Lei para todas as camadas da população, independente de cor, raça ou religião, foi longo e extenuante em diversos países e a maioria destes movimentos não conseguiu atingir seu objetivo. Em seus últimos dias, alguns deles acabaram se voltando para uma conotação política de esquerda. 

Rosa Park, com Martin Luther King ao fundo- 1955 

O mais conhecido e famoso deles através da história foi o Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, compreendido entre 1955 e 1968, que consistia em conseguir reformas nos Estados Unidos visando abolir a discriminação e a segregação racial no país. 


Rosa Parks receiving the 1993 Essence Award 



Com o aparecimento de movimentos negros como o Black Power e os Panteras Negras no meio dos anos 60, o clamor da sociedade negra por igualdade racial acabou aumentando seu pleito para a dignidade racial. 


Ceremony Civil Rights Pioneer Rosa Parks - 2005 


a) O início 

O marco inicial deste movimento se deu no Sul eminentemente racista do país, na cidade de Montgomery, estado do Alabama, em 1 de dezembro de 1955, quando a costureira negra Rosa Parks (conhecida como “A Mãe dos Direitos Civis”) se recusou a ceder seu lugar para um homem branco, prática obrigatória de acordo com as leis segregacionistas daquele estado. 

b) Marcos históricos 

Outros momentos importantes na luta pela igualdade civil nos Estados Unidos foram: 

• 1957 - A Dessegregação em Little Rock 

• Nove estudantes negros conseguiram nas cortes federais o direito de estudar no Ginásio Central de Little Rock, pequena cidade do Arkansas, onde as escolas eram até então segregadas. No primeiro dia de aula, além dos insultos e ameaças feitas pelos estudantes e pela população branca na chegada à escola, eles foram forçados a retornarem a suas casas, por ordem da Guarda Nacional do estado, convocada pelo governador para impedir a sua entrada, em oposição à decisão da justiça federal. O então presidente Dwight Eisenhower dissolveu a Guarda Nacional do Arkansas e enviou tropas de pára-quedistas do exército para garantir e proteger a entrada e o estudo dos nove alunos negros em Little Rock, cumprindo a decisão das cortes federais. O racismo no sul americano estava de tal maneira arraigado, que quando o ano letivo terminou, os integrantes do sistema público de ensino de Little Rock preferiram fechar a escola – no que foram seguidos por outras escolas do estado e do sul do país – a permitir a integração racial nelas. 

• 1961 – O protesto de Greensboro 

• Estudantes negros e brancos da cidade de Greensboro, Carolina do Norte, começaram a sentar em grupos no chão de lanchonetes, restaurantes, lojas, museus, praças, teatros e demais estabelecimentos da cidade em protesto contra a segregação aos negros nestes locais. Centenas eram presos e soltos, muitas vezes arrancados de seus lugares com violência pela polícia. O exemplo começou a ser seguido em diversos estados durante todo o começo dos anos 60. 

• 1962 – O Caso James Meredith 

James Meredith 

• Em 20 de setembro de 1962, no início do ano letivo americano, o estudante James Meredith, após ter ganho de causa nas cortes federais pelo direito de ingresso na Universidade do Mississippi, o mais racialmente conservador de todo o país, teve sua tentativa de entrar no campus impedida por duas vezes, por interferência pessoal do próprio governador do estado, que declarou que “nenhuma escola do Mississipi seria integrada enquanto ele governasse o estado”. Após a apelação de Meredith à corte federal, que instituiu uma multa diária de U$10 mil por cada dia que ele fosse impedido de entrar na faculdade, Meredith conseguiu ingresso escoltado por agentes federais no dia 30 de setembro. 

Ativistas negros e brancos marcham em Washington 
pelos direitos civis aos negros. 

• Civis e estudantes brancos começaram uma grande conflagração na universidade e suas vizinhanças que acabou com a morte de duas pessoas e ferimentos à bala em 28 agentes federais e mais de 160 feridos entre a população. No dia seguinte, o Presidente John Kennedy enviou forças do exército para garantir a entrada e a permanência de Meredith na universidade e dominar os tumultos na cidade. 

• 1963 – A Marcha sobre Washington 

• Em agosto de 1963, um quarto de milhão de manifestantes, negros e brancos, vindos de toda parte da nação, se reuniram na capital do país para um dia de discursos, protestos e cantos a favor da igualdade dos direitos civis para todos os cidadãos, organizado entre outros por Martin Luther King, Bayard Rustin e Phillip Randolph, na maior aglomeração pacífica realizada nos Estados Unidos com propósitos de integração racial, direito de moradia digna, pleno emprego, direito ao voto e educação integrada. A música, em especial, foi crucial para inspirar, mobilizar e dar voz ao movimento de direitos civis: cantores profissionais como Mahalia Jackson e Harry Belafonte apoiaram desde cedo o movimento e a música "We Shall Overcome" se tornou seu hino não-oficial. 


Civil Rights Movement: James Meredith 



Oct. 1, 1962 - James Meredith Enrolls at the University of Mississippi 



The Legacy of James Meredith 



• 1964 – O Verão da Liberdade 

• Durante os meses de verão de 1964, férias escolares nos Estados Unidos, um grupo de mais de cem estudantes voluntários pelos direitos civis do norte do país, brancos e negros, dirigiram-se ao sul para iniciar uma campanha pelo direito de voto negro e para a formação de um partido pela liberdade do Mississippi. Três deles acabaram assassinados pela Ku Klux Klan em conluio com autoridades policiais da cidade de Filadelfia, Missisipi e seus corpos, perfurados a tiros, encontrados após mais de um mês de diligências do FBI, enviado ao local pelo Presidente Lyndon Johnson para assumir as investigações. Acompanhado diariamente pela imprensa em rede nacional de televisão e pelos mais influentes jornais do país, a indignação que o caso provocou na opinião pública americana ajudou o Presidente Johnson a aprovar junto ao Congresso a Lei dos Direitos Civis, em 2 de julho de 1964. (este caso foi contado no filme de sucesso mundial “Mississippi em Chamas”, de Alan Parker) 


Trailer: Mississipi em Chamas 



Summer of 1920 - Resurgence of the Ku Klux Klan 



Lyndon Johnson assina a Lei dos Direitos Civis 
em 2 de julho de 1964. 

• 1964 – Prêmio Nobel 

• No fim do ano, o antissegregacionista Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços pacíficos pelo fim da segregação racial e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. 

• 1965 – Selma (Alabama) e o Direito de Voto 

Marcha em Selma pelos Direitos Civis 

• Martin Luther King liderou passeatas e manifestações na cidade de Selma, no Alabama, em prol do direito de cidadãos negros se registrarem como votantes, em oposição ao chefe de polícia da cidade, Jim Clark. Ele e centenas de manifestantes foram presos, mas as manifestações continuaram e acabaram em violência por toda a cidade, com a morte de uma manifestante pela polícia. Nos dias que se seguiram, choques entre civis brancos locais, policiais a cavalo e manifestantes negros resultaram em tumultos generalizados com mortos e feridos, transmitidos pela televisão para todo o país. As cenas causaram a mesma indignação dos fatos ocorridos no Mississipi no ano anterior e permitiram ao Presidente Johnson conseguir aprovar junto ao Congresso a Lei do Direito de Voto em 6 de agosto de 1965. Esta decisão provocou a famosa lamentação de Lyndon Johnson de que “com essa assinatura acabo de perder os votos do Sul na próxima eleição”. (Nota: Lyndon Johnson desistiu da reeleição em 1968, devido aos protestos generalizados no país por causa da Guerra do Vietnam), 


Martin Luther King e o boicote ao transporte público de Montgomery 



• O direito ao voto negro mudou para sempre a face política do sul dos EUA, fazendo com que, em 1966, o número de negros eleitos para cargos públicos no Mississipi, o mais racista dos estados sulistas, fosse maior do que em qualquer outro estado do país. Em 1965, pouco mais de 100 negros foram eleitos para mandatos públicos nos EUA. Hoje, os agora chamados afro-americanos são mais de 8.000.000, a maioria em estados do sul. 

• 1966-1975 – O Black Power e os Panteras Negras 

• Em contraponto com a política de integração através da não-violência de Martin Luther King, surgiu em 1966 um grupo de homens liderados por Stokely Carmichael, pregando a necessidade dos negros de se defenderem dos ataques sofridos pela Ku Klux Klan no sul do país. A partir de seus discursos, os negros sulistas, em número muito maior do que o da organização racista passaram a enfrentar de armas nas mãos os ataques dos brancos racistas da região, fazendo com que a Klan desistisse de aterrorizar os habitantes negros da região. A este movimento começou a se dar o nome de Black Power (Poder Negro). 

Malcolm X, um dos principais defensores 
dos direitos dos afro-americanos 

• O movimento pelos direitos civis começava a enfrentar a violência através da violência. Os jovens integrantes do Black Power passaram a mostrar seu orgulho de pertencer à raça negra ganhando maior identidade cultural, exteriorizando seus sentimentos, usando indumentárias coloridas e cabelos no que chamavam de estilo afro, inspirados nas tribos da África. 


Malcolm X’s Fiery Speech Addressing Police Brutality 



• O sentimento de combater o racismo, a injustiça e a violência branca com a mesma moeda, cada vez mais crescente, acabou desembocando na organização conhecida como “Panteras Negras”, um pequeno partido político criado em Oakland, Califórnia, disposto a conseguir a igualdade racial e política “por quaisquer meios”, seguidores ideológicos do falecido ativista Malcolm X. Seu indumentário padrão, de casacos negros de couro, boinas negras, camisas azuis e cabelos afros passaram a fazer parte da paisagem política e policial americana junto com sua saudação de punho levantado, até o meio dos anos 70, sempre ligada a métodos agressivos de protestos e retaliação. Todos os seus mais conhecidos líderes, como Huey Newton, Bobby Seale e Angela Davis acabaram presos e relegados à obscuridade, devido às ações repressivas do governo do republicano Richard Nixon. 


Martin Luther King e o boicote ao transporte público de Montgomery 







Até o próximo encontro!



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